segunda-feira, março 11, 2024
sábado, março 09, 2024
AFRO-ITAUNENSES
sábado, março 02, 2024
EDUCADORA ITAUNENSE DE PRESTÍGIO
Itaúna é feliz pela qualidade de
seus filhos. Entre estes avultam muitas mulheres notáveis. Elsa Nogueira
Gomide, filha de Péricles Gomide e de Eponina Gomide — família de artistas.
Gente de teatro, da imprensa e da literatura. Irmã do saudoso Piu da “Folha do
Oeste” e, também, do sempre lembrado e sempre atual Pancrácio Fidelis, cronista
imortal pela verve humorística. Soube relatar com espírito crítico, mas ameno
nosso passado, com seus aspectos humanos e pitorescos.
Elsa, normalista, educadora e corajosa,
superando na sua época preconceitos, sempre vitoriosa nos desafios que
enfrentou. No Grupo Escolar Dr. Augusto Gonçalves, com a professora Dona Didina
do Capitão Oscar, nunca ganhou menos do que a nota máxima. Terminou o primário
com distinção e medalha de ouro. Continuou com o mesmo sucesso na Escola Normal
sob competente direção do saudoso professor Anselmo Barreto.
Estagiária na arte de ensinar, depois
professora primária, nomeada com salários de ontem e de hoje, sempre pouco
condizentes com a importância do magistério, partiu para outras atividades.
Aprendeu o alfabeto Morse com o telegrafista Ernesto e conviveu, no mesmo
prédio com seu pai, o Lique, dublê de dentista e ator teatral, também agente do
correio. Foi normalista, através de concurso público, em 1940, telegrafista para
servir em Belo Horizonte. Jovem, solteira, enfrentou a capital, aos 22 anos,
numa época em que as moças viviam agarradas às barras das saias de suas severas
e exigentes mães.
Fez brilhante carreira como funcionária
pública, jamais apadrinhada por prestígio político de quem quer que seja. Nos
concursos públicos estava sempre nos primeiros lugares, assegurando-lhe
nomeação por sua capacidade e competência. Assim foi para o Rio de Janeiro como
escriturária, em pleno regime ditatorial, para servir na Diretoria do Pessoal
no Ministério da Educação e Saúde. Na capital federal, não perdeu tempo. Nas horas
vagas cursava línguas, fez estágio na Biblioteca Nacional.
Voltou para Belo Horizonte a
serviço do Setor Pessoal dos Correios. Viveu muitos anos na capital mineira.
Redemocratizado o país, no governo Dutra, enfrentou novo concurso do DASP em 1948,
tornando-se Oficial de Administração. Retornou ao Ministério de Educação, sua
casa de trabalho, ocupando vários cargos de confiança. Chefe de Seção, também
responsável pela fiscalização da vida escolar dos estabelecimentos federais de
todo país.
O Ministro Tarso Dutra precisou
de alguém de alto nível e de sua confiança pessoal, fora dos quadros políticos,
para exercer a função de Diretora do Departamento de Assuntos Universitários,
em momento difícil, em que pesavam acusações sobre a pouca transparência
naquele importante setor de ensino superior federal. Afastou os políticos e lá
colocou uma técnica de seu ministério. A escolhida foi nossa ilustre e distinta
conterrânea Elsa Gomide, que lá deveria ficar uns dois meses, até que crise
fosse superada. Durante quase um ano e meio o cargo ficou em suas mãos competentes
e limpas. Neste período tornou-se a madrinha da Universidade de Itaúna. Ela
abriu as portas do Ministério para a nascente universidade — considerada até
então como clandestina pelo Egrégio Conselho Federal de Educação — criada pelo
Conselho Estadual, à revelia do Conselho Federal.
Deixando o cargo de Diretora do
DAU, Elsa continuou como assessora de seu substituto, o ilustre Professor Edson
Machado de Sousa, de quem me tornei amigo, por influência dela, à época em que fiz
parte da Diretoria da Associação dos Estabelecimentos de Ensino Superior de
Minas Gerais. Naqueles tempos duros e difíceis em que a Universidade vivia sua
pobreza franciscana, Elsa, em 1969, concedeu-nos a primeira verba federal, Cr$ 101.000,00(cento
e um mil cruzeiros) — valor da época. Desde então, a Universidade, ao longo de dez
anos, foi aquinhoada com as verbas federais. Nos anos de 1970 e 1971 recebemos,
respectivamente, Cr$ 154.745,70 e Cr$ 323.155,00, graças a sua intervenção e
prestígio.
Elsa aposentou-se em 1970, mas
tamanha sua capacidade técnica e administrativa, continuou servindo,
reconvocada pelos ministros que se sucederam. Tornou-se secretária particular
da Ministra Ester de Figueiredo Ferraz. Com o término do mandato da ministra,
Elsa foi requisitada para servir como assessora do Conselho Federal de
Educação. Graças à sua influência, sempre olhando com carinho e boa vontade aos
nossos apelos, essa generosa e notável servidora pública, com honestidade e incomum
senso patriótico, tudo fez para que recebêssemos os seguintes valores do
Governo Federal — 1973 (600 mil cruzeiros), 1974 (600 mil cruzeiros), 1975 (700
mil cruzeiros), 1976 (400 mil cruzeiros), 1977 (500 mil cruzeiros) e 1978 (700
mil cruzeiros).
Elsa aposentou-se em 1988. Foi a
itaunense que mais ajudou a Universidade de Itaúna em momentos difíceis. Criada
pelo Governador Magalhães Pinto, através de seu representante para os atos
consultivos, Dr. Miguel Augusto Gonçalves de Souza, a Fundação recebeu do
Estado um papel, apólice da dívida pública, sem correção monetária, que poucos
anos depois nada valia. Seu patrimônio ficou reduzido a zero. Graças aos nossos
esforços perante o poder público municipal e ajuda dos Governadores Aureliano
Chaves e Francelino Pereira na área estadual, conseguimos recriar seu
patrimônio — porque fundação não existe sem patrimônio. Recursos financeiros
nós só tínhamos os provenientes das anuidades dos alunos e das verbas
conseguidas pela cidadã itaunense Elsa Nogueira Gomide. A ajuda financeira que
recebíamos de empresas e da Prefeitura transformávamos em bolsas de estudo para
operários e alunos carentes.
É enorme a dívida de gratidão dos
itaunenses gratos e reconhecidos para com esta notável cidadã, humilde e
simples, que nasceu para servir sem jamais desejar ser servida.
Referências:
Texto:
Guaracy de Castro Nogueira (In Memoriam)*
Fonte e imagem:
Jornal Folha do Povo, Ed. nº266 de 21 de setembro 2002, p.2.
Organização,
pesquisa e adaptação do texto para o blog: Charles Aquino
domingo, fevereiro 25, 2024
BATISMO JOÃO DORNAS
Referências:
Pesquisa, arte e elaboração: Charles Aquino
Fonte Livros Batismos da Paróquia de Itaúna/MG. Disponível em Family Search https://www.familysearch.org/ark:/61903/3:1:939N-DS9V-SK?i=34&wc=M5F8-6TT%3A370882003%2C369941902%2C370896201&cc=2177275
ÓBITO JOÃO DORNAS
sábado, fevereiro 24, 2024
POSSE NA ACADEMIA MINEIRA
Discurso de recepção 1948
Pronunciado ao tomar
possa na Academia Mineira de Letras (AML)
substituindo Carlindo
Lelis Cadeira n°12 – Patrono: Alvarenga Peixoto
Senhores Acadêmicos.
Aqui estou para integrar-me na
fortuna do vosso convívio, as mãos vazias de merecimento, mas repleta a alma do
desejo de ser, entre os menores, o mais diligente dos confrades. Venho de uma
geração atormentada pela insânia dos homens do meu século, e trazendo na alma o
ressaibo do sofrimento e o calor da revolta. A guerra de 1914, dividindo os homens
pelo ódio e destruindo as possiblidades sociais dessa geração, plantou lhe no
espírito a esperança de recuperar essas possiblidades pela transformação
radical dos quadros sociais políticos e estéticos que, a nosso ver, eram os
responsáveis pela hecatombe.
O movimento modernista que
sacudiu todas as camadas espirituais do mundo pós-guerra, tem a sua raiz
nessa esperança de recuperação e ajustamento. Por ela, a minha geração se bateu
com bravura e convicção sem limites. O calor da refrega e a certeza da justiça
de uma causa tão bela, justificam nos moços que a lidaram o excesso em
incorreram, excesso que não invalida a grandeza da sua missão e do papel que
desempenhou na história espiritual desta primeira metade do século XX.
Fui um dos mais severos
acusadores no julgamento da geração anterior, porque estava convencido da sua
incapacidade em guardar o patrimônio mental que deveria nos ser transferido,
senão aumentado, pelo menos intacto na grandeza que o século XIX lhe fundira.
Daí o meu desdém — o desdém da inexperiência e da revolta contra a vossa Casa,
cujo espírito, fundido pelo humanitarismo do grande século anterior,
representava aos meus olhos inexpertos um estado de coisas que era urgente
modificar.
Os anos, a experiência dos homens
e das coisas que é o primeiro generoso dos cabelos brancos, mostraram-me afinal
que fui excessivo e leviano. As causas são mais complexas, são mais profundas,
são mais rebeldes à terapêutica social do que supunham a ignorância e o ódio da
minha geração.
Mas, é certo também que não foi
perdido o vigor que imprimimos à nossa luta. Dela nasceu uma consciência mais
viva da supremacia do espírito humano — e tão viva, que a maior revivescência medieval
que já subjugou os homens em todos os séculos da História, foi esmagada implacavelmente
pelas forças imponderáveis do espírito na mais sangrenta batalha que sulca de
luz os caminhos da Humanidade. Só está benemerência é bastante para situar o
movimento modernista, principalmente no Brasil, no mais destacado lugar da história
social e política do século XX.
Feita esta ligeira explicação de
penitência, proferida com a mesma sinceridade com que manejei o florete do
sarcasmo contra as instituições acadêmicas da minha terra, permiti, senhores,
que inicie a minha oração, cumprindo o dever estatutário de esboçar o elogio
crítico do patrono da cadeira número 12, o poeta inconfidente Inácio José de
Alvarenga Peixoto, que me coube ocupar pela morte de outra expressiva figura de
homem de letras que foi Carlinho Lélis, seu fundador.
Quando em meados do século XVIII
foram dadas à luz as duas primeiras manifestações literárias de Minas — “Triunfo
Eucarístico” (1734), escrito por Simão Ferreira Machado, e “Áureo Trono
Episcopal” (1749), de autor anônimo, ambas de valor literário apenas
cronológico e histórico, já a conquista do nosso território havia se firmado pela criação
das vilas de Sabará, Vila Rica e Mariana (1711) e o grande rush do ouro
havia cunhado na cera plástica do indígena os caracteres psicológicos do negro
paulista de origem lusa, fecundado o terreno de que nasceria a nossa literatura
popular consubstanciada no folclore. Ê o que podemos chamar com propriedade o início
da nossa criação literária, apesar de oral e tradicional como a dos rapsodos
medievais.
Portanto, quando, ao descambar o
século, surge a Escola Mineira, uma literatura popular já extinta por estes
grotões auríferos, sendo aquela apenas a manifestação erudita e nem sempre
vernácula da alma do nosso povo. Por este tempo já o sentido de pátria havia
provocado todas as rebeliões dos mineiros como a dos Emboabas e a de Felipe dos
Santos, para citar as mais significativas, e a maioria dos bardos da América
Mineira já eram brasileiros ilustres pela pecúnia e pelas letras. Vila Rica, no
dizer de Sílvio Romero, “era então no Brasil uma espécie de Weimar. Pequena
cidade de província, reunia em si, a um só tempo, homens como Cláudio Manuel da
Costa, Tomaz Antônio Gonzaga, Inácio José de Alvarenga Peixoto, Diogo Pereira
de Vasconcelos, Luiz Vieira da Silva Mascarenhas, Francisco Gregório Pires
Monteiro, as maiores ilustrações brasileiras da época, residentes na Colônia”.
É o velho axioma sociológico do
tropismo econômico, pois nas Minas Gerais estava o centro de interesses da
Coroa com o aparecimento do ouro e do diamante ... Inácio José de Alvarenga
Peixoto, patrono da acadêmica que me apontou o destino, foi um dos
inconfidentes e um desses espíritos da Cumiada Intelectual da Weimar brasileira
[...].
Senhores acadêmicos. Já vos disse
que venho de uma geração tangida pelo infortúnio do ódio e do sofrimento, e que
teve a rebeldia como solução para os seus problemas morais. É isto que explica,
em estética, o aparecimento do modernismo, O modernismo foi a maneira pela qual
rompemos com um mundo que supúnhamos apodrecido, simplesmente porque não
soubera resolver os problemas que lhe foram apresentados. Éramos muito moços e
ardentes para compreendermos a complexidade desses problemas, e daí a revolta,
o sarcasmo, a ironia, a impiedade — que foram o selo dessa geração torturada.
Os anos, os sofrimentos que se gravaram,
uma compreensão mais justa das fraquezas e uma percepção mais humana das
reservas de energia e nobreza que palpitam no fundo de todas as almas — nos
deram a consciência do nosso papel no jogo de todo esse drama formidável. Não passávamos
de um elo na imensa cadeia das gerações ...
Transmitimos a nossa mensagem,
que não podia deixar de ser escarninha revolta e trouxemos a nossa colaboração
de esperança e de fé na construção de um mundo que virá certamente — mais legal
e mais justo, e, portanto, mais belo e amável ...
E a Academia Mineira de Letras,
recebendo em seu seio mais de um desses rebeldes que a desdenhavam, nos dá a
imorredoura lição da perenidade do espírito no tumulto das paixões e na
inanidade dos punhos crispados pelo ódio ...
Referências:
Pesquisa e
organização para o blog: Charles Aquino
Texto: João
Dornas Filho (In memoriam)
Fonte impressa: FILHO,
João Dornas. Discurso de recepção (Academia Mineira de Letras), Ed.
Mantiqueira, 1952, impressa oficial de Minas Gerais, BH, p.7-12,56-57.
Acervo: “Fotografia
tirada na noite de 16 de novembro de 1948, ao tomar posse na cadeira de nº12 da
Academia Mineira de Letras” (informações no verso da imagem). Arquivo Público
Mineiro. Disponível em: http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/modules/fotografico_docs/photo.php?lid=34008
sexta-feira, fevereiro 23, 2024
MARIA INÊS MOREIRA
Denomina logradouro público. O povo do Município de Itaúna, por seus representantes decreta, e eu, em seu nome, sanciono a seguinte Lei: Art. 1 o Denominar-se-á Maria Inês Moreira a praça localizada na Zona 00, setor Centro, quadras 36 e 39 e Zona 03, setor Bairro de Lourdes, quadra 01, na confluência das ruas Péricles Gomide, Marechal Deodoro, Tiradentes e Av. Dorinato Lima. Art. 2 o Revogadas as disposições em contrário, esta lei entrará em vigor na data de sua publicação.
Prefeitura Municipal de Itaúna, 06 de setembro de 1985.
Prefeito Municipal Francisco Ramalho da Silva Filho.
Nossa proposição é no intuito de preservar a memória da professora Maria Inês Moreira. Sua existência entre nós, foi dedicada à educação. Nasceu em a 7 de outubro de 1941, filha do casal Olímpio Moreira e Maria Geralda Moreira (proprietários da Fazenda Boa Vista que também pertenceu ao Padre Antônio Maximiano de Campos), tendo sido a segunda entre os seis filhos do referido casal. Contraiu o matrimônio em 2 de dezembro de 1967, na Capela da Fazenda Boa Vista, onde residia. Desse matrimônio, nasceram dois filhos: Juliano e Fabiano.
Cursou o primário no Grupo Escolar José Gonçalves de Melo, tendo-se tornado professora primária através da Escola Estadual de Itaúna. Colou grau em Ciências e Letras pela Faculdade de Filosofia de Itaúna. Lecionou Geografia e História no Colégio Santana bem como professora primária na Escola Dr. Lincoln Nogueira Machado e no Grupo Escolar José Gonçalves de Melo.
Cultivou grande amizades entre alunos, colegas de trabalho como na sociedade itaunense que tiveram por ela um carinho especial. Além de amiga, era uma excelente profissional, pois sempre conseguia fazer de seus alunos, os melhores da escola.
Maria Inês era filha de fazendeiros, criada com muito amor pelos pais, adorada pelos irmãos e amigos, o que não foi suficiente para impedir a dolorosa provação de sua vida. Mesmo assim, amava a vida e sabia conservar em seu rosto um sorriso e a candura de uma criança. Faleceu no dia 25 de julho de 1984 com apenas 42 anos de idade, após suportar um sofrimento que durou um ano, deixando um grande vazio entre seus amigos e familiares, principalmente seus filhos.
São por estes motivos, que apresentamos a essa Casa a presente proposição, que na certa, essa edilidade haverá de submetê-la a apreciação e posterior votação.
Sala das Sessões, em 2 de agosto de 1985.
Presidente da Câmara – José Coelho Neto.
PRAÇA MARIA INÊS MOREIRA
Referência:
Elaboração e arte: Charles Aquino
Adaptação do texto original para o blog: Charles Aquino
Pesquisa: Patrícia Nogueira, Charles Aquino
Câmara Municipal de Itaúna. LEI nº 1.855, de 06 de setembro de 1985 Disponível em:
Acervo: Câmara Municipal e Prefeitura de Itaúna/MG
Imagem meramente ilustrativa em homenagem a professora Maria Inês Moreira