domingo, fevereiro 24, 2013

Ano 1852

Sant'Ana do Rio do São João Acima
Livro de Óbito 


(Clicar na fotografia)
Morro do Rosário    Ano 1852

Aos vinte e cinco de Janeiro de mil oitocentos e cinquenta e dois foi sepultado no adro do Rosário o cadáver de Thereza ,crioula, inocente, escrava de João Gomes Moreira. E para constar faço este assento em que me assigno.
O vigário  Encomendado João Baptista  Miranda 

quinta-feira, fevereiro 14, 2013

IGREJA BATISTA DE ITAÚNA



As origens da Egreja Baptista de Itaúna remontam a 1903, quando o Sr. João Antônio Soares, membro da igreja de Bello Horizonte, se transferiu para esta cidade, reunindo em torno de si os primeiros adeptos, que foram os fundadores da igreja local e cujos nomes são os seguintes:

Daniel F. Crosland                    
Messias Nogueira Soares
Joaquim Alves Pinheiro
Francisco Canuto da Silva
Archimedes Caire de Roure       
Theophilo Amancio das Chagas 
Florentino Ferreira de Sousa
Carlos Alves Galdino                 
Antonio José Rodrigues             
Americo Lopes                          
Francisco Manoel de Abreu
João Evangelista dos Reis
Antonio Querino Soares            
Abel João da Cruz e Sousa
Castorina Ferreira de Abreu      
Maria do Carmo Moreira

Em 1913, a igreja já estava consolidada e realizava suas reuniões na residência de João Antônio Soares por falta de um templo dedicado. Porém, à medida que o número de seguidores crescia, um templo batista foi construído em 1915. João Antônio Soares generosamente cedeu o terreno para este templo, que fica na Rua da Alegria, hoje Melo Viana.
"Produto de grande esforço e fé profunda, esse templo representa para os batistas de Itaúna um atestado de alta significação espiritual e moral, pois é fácil de avaliar-se a dificuldade que venceram para lançar uma religião combatida por todos os meios num centro de baixo nível mental que era Itaúna daquele tempo" (FILHO, p.56-57).
Os obstáculos chegaram ao ponto em que o vigário da freguesia se recusou a autorizar o sepultamento de Américo Lopes Dias e João Antônio Soares no cemitério. A inflexibilidade do vigário provocou uma resposta hostil da população local, que considerou a decisão desumana e insuportável, fazendo com que os corpos permanecessem insepultos durante dias. Consequentemente, as autoridades permitiram que os sepultamentos ocorressem no terreno da igreja batista, sendo o sepultamento de Américo Lopes no jardim e o de João Antônio Soares seu repouso final no interior do templo. A Igreja Batista continuou ocupando um lugar especial no coração dos cidadãos de Itaúna, com um número significativo de seguidores e conquistas impressionantes.

TEMPLO 

Na escritura pública do cartório do 2º OFÍCIO do Tabelião José Edwards Santiago, às fls. 53 a 55 do LIVRO DE NOTAS Nº 32 (documento disponível no Cartório de Registro de Imóveis de Itaúna), consta a venda de uma casa coberta de telhas, sem divisão interna, construída no ano de 1912, situada à Rua Afonso Pena (hoje Rua Zezé Lima) em Itaúna MG. O primeiro proprietário do imóvel foi João Antônio Soares, que vendeu à Associação Evangélica Batista do Rio de Janeiro.

Em 08 de Outubro de 1943, representando a Associação, o missionário norte-americano, Rev. Otis Pendleton Maddox, batista e residente em Belo Horizonte, vendeu o imóvel para o senhor Augusto Alves de Souza, casado, maquinista, residente em Itaúna, pelo valor de Cr$ 9.500,00 (nove mil e quinhentos cruzeiros). 

Diante do exposto, o primeiro endereço do templo da Igreja Batista de Itaúna, foi à Rua da Alegria,  hoje rua Melo Viana, e o segundo, à Rua Afonso Pena, hoje Rua Zezé Lima, nº 77 (fotografia do templo acima).






REFERÊNCIAS:
FILHO, João Dornas. Itaúna Contribuição Para História do Município 1936 págs.  56 , 57.
Acervo: Sr. José Alves Nogueira. Residente à Rua Zezé Lima 77
Colaboradora: Heloísa Oliveira
Pesquisa e Elaboração: Charles Aquino/Juarez Nogueira
Cartório Registro De Imóveis de Itaúna
SOUZA, Miguel Augusto Gonçalves de. História de Itaúna. pág. 210  

quarta-feira, fevereiro 06, 2013

A Terra Da Liberdade



Anno 1913

 MINAS GERAES–ESTADOS UNIDOS DO BRASIL 

A TERRA DA LIBERDADE

(LINDOLPHO XAVIER)

Eis nesta curva ideal que aos desertos se extende
As tranquillas regiões dos planatos centraes,
Na larga linha azul que os infinitos fende,
Goyaz, Bahia abraça e Matto Grosso prende,
Vindo fechar-se emfim nestas Minas Geraes.

Cá, o Itacolomy, como impávida tórre,
Ergue a fronte de ferro em eterna atalaya;
Alli, o São Francisco, o Paraopeba corre;
Além, da Mantiqueira o dorso azul percorre,
E fura os céos o pico azul do Itaiaya.

Além, na leda encosta , a dominar o cerro,
Surge altiva e ridente a nova Capital.
E perto, como um vasto elephante de ferro,
A ouvir do trem que passa o estrepitante berro,
Immensa se espreguiça a Serra do Curral.

Eis Morro Velho, alli, Kimberley rica e bella,
O ouro a tirar do ventre em grandes borbotões;
Eis Honório Bicalho, a escancarar a guella,
Gongo-Socco, Tripuhy,Passagem,Gandarella,
Golcondas a esconder nos fundos corcovões.

Eis o Burnier, a mostrar o esburacado flanco,
O ouro negro a jorrar das cavernas sem fim;
Eis adeante, a empinar-se, a Serra do Ouro Branco,
Por onde o trem de ferro, em truculento arranco,
Corta em duro rugido as furnas de Alladin.

Além entre os coxins das verdejantes fraldas,
De Tombos, Manhuassú, Viçosa e Muriahé,
D’alta vegetação nas crúas esmeraldas,
Com as flores a brotar nas túmidas grinaldas,
Eis as ricas regiões das terras de café.

Alli, da verde baga entre os quentes odores,
Com a machina a bufar, arrastando os vagões,
Ao ruido do progresso e ao fumo dos vapores,
Vae A Fortuna a inchar,
com seos mil esplendores,
Nova Colchida a erguer nessas duras regiões.

Nas bordas a sorrir do umbroso Parahybuna,
Juíz de Fóra, a princeza, ergue a fronte real.
Pisa São João D’El-Rey os antros da Fortuna,
Céres hymnos entôa em Pará e Itaúna,
E ao Sul jorram saúde as fontes de Crystal.

De Sabará e Caeté eis as serras distantes,
As cinsas a guardar do estadista de escól.
De Diamantina, além, eis os céos de diamantes,
E Ouro Preto, a acenar aos seos mil visitantes,
Com a sua fronte aureolada e inundada de sol.

Curvello e Pitanguy , Patos e Indayá se inclinam
Entre os renques viris dos mil buritysaes;
Uberaba e Araxá sobre os campos reclinam,
E além , Paracatú e Carmo já se empinam
Sobre o Sahara de anil, entre os Campos Geraes.

De Tiradentes surge o épico fantasma,
- Liberdade! – a rugir com a portentosa voz;
De ottoni o inclyto vulto o estro nos enthusiasma,
E de Santos Dumont o berço além se plasma,
Erguendo um hymno eterno ao ousado albatroz.

De Claudio e Guimarães a lyra inda alli geme;
Eis de Albuquerque o vulto, e Ouro Preto, e Durão;
Eis Baptista Caetano, eis Gonsaga e Paes Leme,
E Capanema a guiar do telegrapho e leme,
E Carneiro, o alto heróe, a morrer como um leão.

E do Triangulo ao Parahyba, e ao Rio Doce distante,
Desde os camnpos do Norte aos pinheiraes do Sul,
Minas vive a sorrir, com o peito de gigante.
Cravejada de ferro, e de ouro, e de brilhante,
Qual princeza encantada, orgulhosa e taful !



Fonte : Hemeroteca Digital Brasileira (http://hemerotecadigital.bn.br/)
Pesquisa: Charles Aquino


sexta-feira, fevereiro 01, 2013

MARIA GONÇALVES DE SOUZA MOREIRA


“Dona Cota”

Nasceu em Sant’Ana do São João Acima, em 23 de Novembro de 1875, filha do capitão Vicente Gonçalves de Souza e de sua esposa Joaquina Maria da Conceição (Dona Quinota). Casou-se na Matriz de Sant’Ana, com seu primo-irmão Manoel Gonçalves de Souza Moreira (Manoelzinho do Hospital), nascido em 19 de Dezembro de 1853, filho de Manoel José de Souza Moreira e de Anna Joaquina de Jesus.

Segundo depoimentos orais chegados ao nosso conhecimento, Dona Cota ao nascer e até os 10 anos, ficou aos cuidados de um casal que residia nos fundos da casa, mãe Tininha e seu marido José, escravos de seu pai, capitão Vicente.

O barracão era uma pequena senzala, onde moravam outros escravos que serviam à família. Consta que a jovem “Cotinha” (seu apelido), quis se casar com um rapaz comprador de gado, residente em Ouro Preto, mas houve oposição de seu severo pai que cultivava a tradição: “case sua filha com o filho de seu vizinho”.

O casamento com Manoelzinho nasceu de uma homenagem que a comunidade itaunense lhe prestou, quando ela foi a oradora, escolhida para falar em nome de todos, saindo-se muito bem e com muita graça. Tudo muito bem arranjado pelas famílias de ambos, para que das palavras proferidas nascesse o amor.

Em 14 de Julho de 1894 aconteceu o casamento, ele com 40 anos e meio, ela com 18 anos e meio. Ele já maduro e experiente, ela uma menina-moça.

 Estiveram em Paris, na Cidade-Luz, e lá, depois de convencidos de que não teriam filhos, trocando ideias sobre o futuro de ambos, teriam feito um pacto de que deixariam suas fortunas para os pobres e humildes de sua terra natal, Itaúna. O esplendor de Paris contrastando, naquela época, com a pobreza e falta de recursos do Brasil, motivou a decisão do casal.

Em 3 de Março de 1917, ele já com 63 anos e ela com 41 completos, com quase 23 anos casados, Manoelzinho fez seu testamento. Residiam em Belo Horizonte. Os bens de ambos não se ligavam em virtude do regime de casamento adotado. Ambos eram ricos.

Deixou para ela no testamento, “o usufruto, durante toda a sua vida, uma casa de morada, situada à rua dos Tupis, nº 51, nesta capital, com todo seu terreno cercado de gradil de ferro e muros, que são três lotes com 1.800m2, números 20, 21 e 22 do quarteirão 24, da terceira urbana. 

Mais o usufruto de 100 apólices federais emissão de 29 de Março de 1911, todas de valor nominal de um conto de réis cada uma, e juros de 5% ao ano. Mais o usufruto de uma casa que estava construindo em Itaúna, perto da casa de caridade, em terreno comprado ao senhor Tobias Viana e sua mulher. E, ainda, toda mobília que existir, roupas de cama e de vestir, na casa do rua Tupis, bem como o cofre de ferro (burra), os anéis de ouro com brilhantes que existir e todas mais joias”.

Determinou que os bens supra relacionados e onerados com a cláusula de usufruto, “passarão por minha morte a pertencer à Casa de Caridade “Manoel Gonçalves de Souza Moreira (...) e que esta casa será administrada pela Câmara Municipal da Cidade de Itaúna, que poderá criar uma associação ou irmandade para administrá-la, e em sua falta, pela diretoria da Companhia Tecidos Santanense.

Manoel Gonçalves de Souza Moreira revogou, através deste testamento, um anterior aprovado pelo Tabelião Doutor Plínio de Mendonça. Faleceu em 20 de Julho de 1920, com 66 anos e meio de idade, 3 anos, 4 meses e 17 dias depois de elaborado seu último testamento.

Lamentavelmente, seus sobrinhos, indignados, após a abertura do testamento de seu marido, Manoelzinho, disseram para Dona Cota: “Tia, isto é um absurdo! Ponha advogado!” Ao que ela respondeu: “Eu? Tocar demanda contra os pobres de Jesus? Deus me livre de tal coisa!” Cota era muito religiosa e temente a Deus. Piedosa, sabia rezar e conversar com Ele, pedindo sempre Sua proteção e amparo par a sua obra e os que nela trabalhavam e fossem por ela assistidos.

Temos grande admiração pelas mulheres da família Gonçalves de Souza. Nossa história é rica de exemplos deixados por estas extraordinárias figuras humanas. Sem dúvida, Dona Cota merece um lugar de grande destaque nesta galeria.

Após a morte de seu ilustre e benemérito marido, maior figura de Itaúna em termos de capacidade administrativa, tino comercial e serviços filantrópicos prestados à comunidade, Dona Cota trilhou seu caminho e na qualidade de viúva ainda viveu 34 anos, 4 meses e 7 dias, vindo a falecer em 27 de Novembro de 1954.

Nestes longos anos soube aumentar e construir seu patrimônio. Edificou uma bela casa em Belo Horizonte, à rua Espírito Santo, nº 1594, onde viveu a maior parte de sua viuvez.

Seis anos antes de seu falecimento, instituiu a Fundação São Vicente de Paulo, em 6 de Dezembro de 1948, com escritura pública registrada no Cartório do 1º Ofício, no Livro de Notas nº 32, às folhas 164v., com assistência do Doutor Promotor de Justiça, Dr. José Valeriano Rodrigues, com o objetivo: “proteger, moral e materialmente, menores desamparados, de preferência do sexo feminino, com especialidade, os naturais e residentes na cidade de Itaúna”:  

Estabelecendo que “são absolutamente inalienáveis o terreno localizado à Avenida Getúlio Vargas, nesta cidade, onde foi à casa de residência de seu pai Vicente Gonçalves de Souza e os a ele adjacentes que a fundação vier a adquirir, bem como as ações das seguintes sociedades: Companhia Tecidos Santanense, Companhia Industrial Belo Horizonte e Companhia Renascença Industrial”.

Nesta escritura, a instituidora promete “transferir à fundação uma casa de morada e seu terreno situados em Belo Horizonte, à rua Espírito Santo, nº 1594, reservando para si o usufruto vitalício sobre ela”.

Imitando seu marido, em 15 de Janeiro de 1949, Dona Cota chamou à sua presença o Tabelião do 5º Ofício de Notas, Carlos Bolivar Moreira, e fez o seu testamento. Nele, admitiu que sua casa em Belo Horizonte, encontrando um bom negócio, poderia ser vendida e produto da venda se converteria em ações inalienáveis.

Aos 20 de Março de 1949, na primeira reunião da entidade, com os dirigentes Dr. Lincoln Nogueira Machado (presidente), Dr. Alcides Gonçalves de Sousa (vice-presidente), Dr. Fajardo Nogueira de Souza (1º secretário), Victor Gonçalves de Souza (2º secretário) e Astolfo Dornas (tesoureiro), Dona Cota também presente, foi apresentado e aprovado o acordo com as Irmãs Clarissas Franciscanas Missionárias do Santíssimo Sacramento, visando a direção interna do Orfanato.

Foram aprovadas as plantas para a construção do Orfanato, ficando o engenheiro Dr. Rubens Vaz de Melo encarregado de dirigir e fiscalizar as obras. Decidiu-se que o capelão indicado pelo Arcebispo Dom Cabral seria irmão conselheiro com direito a voto.

Em 14 de Fevereiro de 1950, faleceu Dona Tereza Gonçalves de Souza, destinando seu patrimônio ao Orfanato instituído por sua irmã, Cota, ainda viva. Vários sobrinhos tentaram anular o testamento que consistia de ações de várias companhias, apólices do Estado, dinheiro, casa de morada à Avenida Getúlio Vargas e seu terreno com 1.400m2, também um anel de brilhantes, tudo avaliado, na época, em um milhão, duzentos e quatorze mil cruzeiros.

Em resumo, esta foi a vida de grandes personalidades da família Gonçalves de Souza as quais, com espírito cristão e religioso, demonstraram que dinheiro não é um mal, mas um bem, que filantropicamente aplicado, melhora a vida dos mais humildes, carentes e sofredores.

 

 

Texto: Guaracy de Castro Nogueira (In Memoriam)

Instituto Cultural Maria de Castro Nogueira - ICMC

Digitalização: Juarez Nogueira Franco (In Memoriam)

Pesquisa/ Organização: Charles Aquino