sexta-feira, janeiro 31, 2014

GUERRA DO PARAGUAI

(O Conde d'Eu e Oficiais Brasileiros que participaram da Guerra do Paraguai)


Voluntários da Pátria na Guerra do Paraguai:

Pitangui  &  Itaúna

A Guerra do Paraguai que perdurou de dezembro de 1864 a março de 1870 considerada por muitos um dos maiores genocídios de toda história da América do Sul, foi o fator mais importante na construção da identidade brasileira no século passado.

Superou até mesmo as proclamações da Independência e da República. A Independência provocou forte mobilização em apenas alguns pontos do país.

A força de terra que lutou no Paraguai compunha-se de 135 mil soldados, dos quais 59 mil pertenciam à Guarda Nacional e 55 mil aos corpos de voluntários. Pela primeira vez, brasileiros de todos os quadrantes do país se encontravam, se conheciam, lutavam juntos pela mesma causa.

A coerção destes recrutamentos sobre os voluntários, tornam-se determinante para um estudo do processo da guerra, mas, é preciso distinguir os vários momentos dos conflitos, todavia, à medida que os conflitos se prolongavam, reduzia-se o entusiasmo e surgiam resistências, aumentando, em consequência, os recrutamentos.

O Exército Imperial, em difícil condição para uma guerra nas fronteiras do sul do pais, se viu impossibilitado de sozinho combater o inimigo agressor. Face a debilidade das forças armadas, o Imperador D Pedro II em 7 de janeiro de 1865 pelo decreto n. 3.371 apelaria para o sentimento patriótico do povo brasileiro, criando, para o serviço extraordinário da guerra os batalhões denominados de Voluntários da Pátria, facilmente identificados pela chapa metálica com o escudo imperial levado no braço esquerdo pelos soldados.

 Mas, no momento inicial, houve entusiástica e surpreendente resposta ao apelo do governo. Corpos de voluntários formaram-se em todo o país. Descrições da partida desses voluntários indicam tudo menos coerção. Em Pitangui, interior de Minas, 52 voluntários despediram-se em meio a celebrações religiosas e cívicas a que não faltaram os discursos patrióticos, a execução do Hino Nacional e a entrega solene da bandeira ao primeiro voluntário, feita por uma jovem.  Para os pitanguenses o amor a pátria foi sempre uma religião, que devotadamente cultivavam com afanoso acatamento.

E, por isso, pressurosamente correram ao apelo da pátria ameaçada, e, reunidos, no Paço Municipal, a 2 de Fevereiro do dito ano, criaram a sociedade - Amor da Pátria- cujo fim era reunir e concentrar os recursos dos municípios, afim de que mais eficaz e prontamente pudessem auxiliar o governo imperial no meios de defesa com que o Brasil se deveria prevenir contra as hostilidades que porventura, surgissem da Inglaterra, bom como contra qualquer eventualidade futura.

A comissão conseguiu levantar logo a quantia de 2:110$000 (Dois contos cento e dez mil réis), que posteriormente, foi aplicada às despesas do Estado com a Guerra do Paraguai.

 Em ofício de 3 de Fevereiro de 1865, o Desembargador Pedro de Alcântara Cerqueira Leite, então Presidente de Minas , dirigindo-se ao Presidente e Secretário da sociedade - Amor da Pátria - cidadãos : Dr. Frederico Augusto Álvares da Silva  e Joaquim Antônio Gomes da Silva Júnior, cientificou-lhes :
- Que autorizado pelo governo  de S.M. o Imperador louvava-os e aceitava a quantia de 2:110$000 (Dois contos cento e dez mil réis) que, como membros da comissão da sociedade - Amor da Pátria - , ofereceram ao mesmo governo para as despesas do Estado .

Na noite de 22 de Março houve uma sessão solene, imponente e majestosa no mesmo Paço Municipal . Era a sessão , em que a sociedade - Amor da Pátria -  , comovida e grata , ia estreitar em saudoso amplexo de despedida os generosos peitos dos Bravos Voluntários de Pitangui. 

Perante a sociedade compareceu a distinta jovem, Dª Rosinha, filha do digno Tesoureiro Tenente Azevedo, empunhando uma rica bandeira , onde em caracteres de ouro, viam se desenhadas as armas do Brasil, a  Corôa Imperial e a Legenda :     "VOLUNTÁRIOS DA PÁTRIA DE PITANGUI"

O Império do Brasil incentivou com promessas o recrutamento de homens, o que funcionou bem nos primeiros tempos, mas não mais teve resposta desejável devido às notícias tristes e desoladoras que vinham dos campos de batalha.

A falta de entusiasmo marcou o recrutamento militar a partir de 1866.  As autoridades sem saber ao certo como deveriam atuar neste sentido seguiram suas intenções e interesses particulares, econômicos ou partidários, dando provas que a ação recrutadora foi um elemento inconstante e fluido, ao sabor da sorte e da boa vontade de seus responsáveis.

Reconhecido pelo jeito “ressabiado” e desconfiado, o mineiro, ao receber essas notícias, sentia temor, e reconhecia nos agentes recrutadores uma ameaça real. Os agentes, por sua vez, tinham o melindroso e arriscado propósito de recrutar as pessoas.

Neste sentido, percebemos que a guerra e sua dinâmica impuseram condições nunca antes vistas: uma relação entre “necessidade e limites”, o que marcou decisivamente aqueles tempos.

Itaúna pertenceu administrativamente ao município de Pitangui, como não podia deixar de ser, deu também os seus voluntários para a Guerra do Paraguai.

Segundo nos informa o historiador Dornas Filho, já se sabia  como era feito esse voluntariado "sui-generis" : o cidadão era preso pelas autoridades encarregadas do serviço e, se não merecesse confiança, era metido a ferros e conduzido à Pitangui, sede do recrutamento da zona.

Muitos conseguiram fugir ao recrutamento, como se deu com Evaristo Cunha , que se escondeu, durante muitos dias, na capela do Senhor do Bonfim; outros não.  O voluntário José Alves Galdino foi preso pelos chimangos (o partido liberal que estava no poder) e conduzido para Pitangui; mas , informa a tradição, que, em lá chegando, usou de um recurso extremo : atochou-se com uma bucha de alho, e febril, foi considerado incapaz. Regressou à Sant'Ana (Itaúna) , onde faleceu pouco depois, em consequência desse estratagema ...

Outros, entretanto, seguiram para o teatro da luta e prestaram serviços até o fim.  São eles :
O Sargento Basílio Domingues Maia, conhecido pela alcunha de Bá ; o Furriel Joaquim Mariano Villas Boas e o mestre Januário, o Caraco, professor de primeiras letras, que dava aula envergando o uniforme. E este foi o único recompensado , com essa cadeira de mestre escola, pois os outros morreram em extrema miséria, desamparados pela Pátria, que serviram com heroísmo e desinteresse.

Essa complexidade pode ser vista num oficio enviado para o presidente da província de Minas Gerais pelo Comandante Superior de Pitangui no dia 23 de Novembro de 1866, em que esta autoridade reclamava do total descaso para com as ordens do recrutamento:

”Com pesar levo a presença de V. Exa que os Guardas designados no 12° batalhão para o serviço da guerra não  aquartelarão se hontem, como havia sido ordenado ao Chefe do mesmo Corpo. Esta falta não he so filha do desamino, do terror, e da repugnância que se nota nos Guardas Nacionaes para o serviço de guerra; he talves antes devida a froxidão dos officiais, que apesar das mais terminantes ordens, não tem elles comprehendido nossa situação e a responsabilidade que nos cabe.

He ella sem duvida ainda a falta de interesse, a indiferença com que as autoridades policiais tem encarado este tão importante serviço, e para provar que digo refiro o ultimamente passado com o Delegado de Policia deste Termo João Evangelista de Oliveira a quem communicando eu hontem a participação que me fes o Alferes Commandante do Destacamento que constava lhe haverem grupos de povo armado nos subúrbios da Cidade para opporem embaraços a prisão dos designados nenhuma providencia me consta fosse tomada, nem ao menos se dignou aquella autoridade responder o meo officio.

 Assim he que contando os designados com a froxidão da Policia, com a dos officiaes facilmente se negão ao cumprimento de seos deveres. Fiz já extrair a relação dos designados, remettia ao Delegado de Policia de quem solicitei a prisão, e ordenei terminantemente ao Chefe d’aquele Batalhão que debaixo de sua responsabilidade os fisesse imediatamente prender, empregando para isso a força destacada."

Ofícios e mais atos do Governo sobre o recrutamento 1867-1868. SP-1272. Secretaria de Estado dos Negócios da Guerra. 10 de junho de 1867. APM

Ao examinar o recrutamento dos guardas nacionais, essas questões são latentes, isso por que a Guarda Nacional era composta, em tese, por homens de bem e com renda, e por essa razão a possibilidade de estarem na relação de protegidos das autoridades era maior. Da cidade do Serro, um agente recrutador noticia ao presidente da província das dificuldades do recrutamento e revela que certas autoridades daquela região se comportaram de maneira contrária aos interesses do governo desestabilizando o envio dos guardas nacionais:

"Faço os exforços humanamente possíveis afim de que o contingente de Guardas Nacionais que tem de dar este Commando Superior esteja na Corte ate meados de Dezembro próximo, como exige o Governo e recomenda V. Exa no officio de 13 do passado: entretanto releve V. Exa que eu ainda um vez insite pelas medidas, que por varias tenho representado em favor do serviço publico e da Guarda Nacional sob meu Commando.

 Aguardo o ultimação das designações para longa e succintantemente expor a V. Exa o inqualificável comportamento de alguns Chefes de Corpos e officiaes, que regando-se aos mais insignificantes serviços trouxerão sérios embaraços ao prompto e necessário expediente."

 Ofícios e mais papeis dirigidos ao Governo sobre a força pública (Novembro-Dezembro de 1866). SP-1145. Cidade de Pitangui 23 de Novembro de 1866. APM.

Dessa maneira, a crise na prestação militar gerada pela necessidade da guerra acirrou ainda mais as relações entre as partes envolvidas. Fugas, desaparecimento para as matas, inúmeros pedidos de isenção e o desentendimento das próprias autoridades propiciaram o descontrole do objetivo proposto: o esforço para se fazer a campanha.

Os voluntários da pátria passaram a contar com recrutamento forçado, instituído por chefes políticos locais e a oficiais da Guarda Nacional, que obrigavam o alistamento de seus opositores. Cada província foi solicitada prover, no mínimo, 1% da sua população .

Quem estivesse cambaleando em alguma esquina poderia levar uma repentina paulada na cabeça, e acordar com uma espingarda na mão, a caminho da guerra.

De qualquer forma, havia várias formas de se escapar da convocação: os aquinhoados faziam doações de recursos, equipamentos, escravos e empregados para lutarem em seu lugar; os de menos posses alistavam seus parentes, filhos, sobrinhos ou agregados; aos despossuídos só restava a fuga para o mato.

O uso de escravos para lutar em nome de seus proprietários virou prática corrente. Estima-se que mais de 20 mil escravos tenham lutado na Guerra do Paraguai. O número representa cerca de 16% dos soldados brasileiros.

Além disso, sociedades patrióticas, conventos e o governo passaram a comprar escravos para lutarem na guerra. O império prometendo alforria para os que se apresentassem para a guerra, fazendo vista grossa para os escravos fugidos.

É inegável a força da guerra como elemento de formação da identidade brasileira . Mas é de lamentar que, além dos milhares de mortos, o processo tenha custado ainda o preço da desumanização do outro .


O Imperador Pedro II, chamado de o "Voluntário Número Um", transferiu-se pessoalmente à frente de batalha.

De 7 de Fevereiro a 21 de Março de 1865 
Foram estes os primeiros 52 Voluntários a inscreverem -se :

1- Antônio da Silva Barbosa
2 - Antônio Gonçalves dos Reis
3 - Antônio José Corrêa
4 - Antônio José Patrício
5 - Antônio Luiz Fagundes
6 - Antônio Rodrigues de Souza
7 - Antônio Silvério da Fonseca
8 - Antonio Silvério Dantas Pintor
9 -Braz Xavier da Silva
10 - Claudino José da Silva
11 - Domingos Martins da Silva
12 - Estácio José da Silva
13 - Fidelis Cláudio Maciel
14 - Florêncio José de Andrade
15 - Fortunato José Gonçalves
16 - Francellino José Gonçalves
17 - Francisco Antonio da Silva
18 - Francisco da Silva Dantas
19 -Francisco Assis Pereira da Fonseca
20 - Francisco de Paula
21 - Francisco Ferreira da Silva
22 - Francisco Gomes da Conceição
23 - Francisco Marinho
24 - Francisco Moreira da Silva
25 - Guilherme da Silva Capanema
26 - Herculano Xavier Rabello
27 - Ignácio Joaquim Bahia da Cunha
28 - Jacintho Pereira da Silva
29 - Jacintho Pereira Guimarães
30 - João dos Santos Mascarenhas
31 - João Farnape de Freitas Mourão
32 - João José de Souza
33 - João José Patrício
34 - João Soares de Freitas Mourão
35 - Joaquim José Ferreira
36 - Joaquim Pereira de Castro
37 - José Agostinho Pereira
38 - José Bahia da Rocha
39 - José Bernadino Fernandes Gama
40 - José da Silva Gomes
41- José Faustino Rodrigues Zica
42 - José Ferreira Rattes
43 - Ludovino Gonçalves Pinto
44 - Manoel Ferreira Coelho
45 - Manoel Gonçalves dos Santos
46 - Manoel José da Silva
47 - Manoel Ricardo Fernandes
48 - Marcellino Pedro Addade
49 - Moysés Antonio Pereira
50 - Olympio José da Silva
51 - Sebastião Alves Coelho
52 - Theóphilo Martins Ferreira





GUERRA DO PRATA



Fontes :
Pesquisa: Charles Aquino
Escavações ou Apontamentos Históricos da Cidade Pitanguy(Joaquim Antônio Gomes da Silva-1902)
Arquivo Público Mineiro
A Dinâmica do Recrutamento Militar na Província de Minas Gerais
Mobilização , Conflito e Resistência durante a Guerra do Paraguai   1865-1870
(César Eugênio Macedo de Almeida Martins)
Guerra superou a Independência e a República (José Murilo de Carvalho & Pedro Paulo Soares)
Hemeroteca Digital Brasileira
Arquivo do Senado Federal
Itaúna - Contribuição Para a História do Município  - Ano 1936 (João Dornas Filho)
Coleção de Leis do Império do Brasil

quinta-feira, janeiro 23, 2014

MAJOR SENÓCRIT NOGUEIRA

 Filho do tenente coronel Zacarias Ribeiro de Camargos  e  Dª Ana Nogueira de castro, o major Senócrit Nogueira nasceu na fazenda da "República" a 24 de abril de 1870. Aos dez anos de idade, quando já assumia a direção da aula do mestre José João nas faltas do professor, concluía o curso primário e tomava as responsabilidades da escrituração da fazenda paterna.

 Em 1894 edificava a Capela do Senhor dos Passos no largo desse nome, e demolida em 1950. Em 1895 era eleito presidente do Clube Teatral e no ano seguinte presidente do Clube Literário e Progressista, associações recreativas e culturais que grandes serviços prestaram à população de Santana.

 No ano de 1898, como presidente de uma mesa eleitoral do distrito, fez da Junta Apuradora do Pará, e depois da Junta da Comarca em Sabará, quando evitou, por sua energia, a depuração de um deputado legitimamente eleito.

 Homem enérgico, inteligente e trabalhador, muito cedo era figura indispensável nos empreendimentos locais de desenvolvimento do distrito, sendo eleito em 1895 para o cargo de Juiz de Paz, que exerceu até 1897.

 Vereador do distrito à Câmara Municipal do Pará, de 1898 a 1900, fez passar várias Leis de interesse para o nosso crescimento, e em 1901 era eleito Presidente do Conselho Distrital quando, junto com o Dr. Augusto Gonçalves, iniciou a campanha para a criação do município.

 O trabalho que então desenvolveu para a consecução deste desiderato foi admirável. Todas as providências necessárias para este fim, como a aquisição dos edifícios para a Câmara Municipal e a Escola Pública, foram por ele, coadjuvado neste passo pelos suplentes de vereador Jove Soares Nogueira e Washington Alves da Cunha.

 A documentação justificativa da criação do município apresentada por Senócrit Nogueira ao deputado José Gonçalves de Sousa atesta a dedicação e o empenho que punha no empreendimento. Vitoriosa a ideia pela Lei Estadual de 16 de Setembro de 1901, era nesta data nomeado coletor estadual que ocupou até 1906.

 A batalha da fundação do município teve lances emocionantes que é bom relembrar, como o da manobra do município de Bonfim para não perder o distrito de Conquista. O chefe bonfinense Dr. Moreira da Rocha, não se conformado com o desmembramento de tão próspero distrito, fundou junto à sede deste, com o fim de ficar com a melhor parte, um novo distrito, como aliás permitia em certas condições, a legislação em vigor deu-lhe o nome de Floriano Peixoto, e mandou logo que se fizesse o lançamento de impostos e tomou outras medidas que caracterizassem a soberania do município de Bonfim sobre o novo distrito.

 Senócrit Nogueira intervém então energicamente para anular a manobra e, aconselhado por amigos, convida os contribuintes do distrito de Conquista a pagar os seus impostos em Itaúna. E sabendo que um inventário de pessoa residente no novo distrito estava se processando em Bonfim, entrou em juízo com uma petição de nulidade, acolhida pela justiça do Pará, que ordenou o processamento pelo município de Itaúna.

 O Major Senocrit Nogueira exerceu o cargo de Coletor Estadual até quando foi nomeado secretário da Câmara Municipal e seu coletor, cargo que desempenhou desveladamente até 1920, juntamente com o de delegado de polícia.

 Em 1908, com a cooperação de Damas de Caridade do Sagrado Coração de Jesus, adquiriu uma casa na rua 14 de julho, hoje rua Diógenes Nogueira, com o fim de transformá-la em abrigo dos pobres, casa que prestou serviços até 1951, quando foi demolida.

 Padrinho de Rossini Cândido Nogueira, criou-o e educou-o o nosso biografado, ordenando-o padre em 1927 falecido em Juiz de Fora em 1941, o padre Rossini, pelos seus dotes intelectuais foi uma saliente figura do clero mineiro.

 Chefe do serviço do recenseamento de 1920, em Itaúna passava o nosso biografado em 1921 para Belo Horizonte, onde fixou residência e foi nomeado funcionário da Prefeitura Municipal aposentando-se em 1936.

 Homem público, funcionário exemplar, amigo dedicado dos interesses da sua terra, homem de religião e de sociedade, batalhador infatigável, patriota da mais nobre estirpe, filantropo e benemérito cidadão itaunenese Senócrit Nogueira foi um dos fundadores do Partido Republicano Mineiro, que a sua inteireza moral abandonou quando viu desviados os seus princípios. As novas gerações de Itaúna hão de sempre reverenciar a figura do nobre ancião e nela beber os mais sadios exemplos de patriotismo e inteireza.

 


Saiba mais aqui

 

Referências:

Fonte: Efemérides Itaunenses ,1951  - Pag: 63,64,65,66.

João Dornas Filho - Historiador & Escritor da Academia Mineira de Letras

Organização: Charles Aquino 

terça-feira, janeiro 14, 2014

GRUPO ESCOLAR ITAÚNA

O Velho Grupo Escolar de Itaúna
( Década 40 )

" Naquela época, o grupo escolar (o único da cidade) localizava-se atrás da igreja, exatamente  onde se acha hoje a Prefeitura Municipal. Eram dois chalés grandes, compridos , de janelas envidraçadas, interligados no centro, onde se localizava a sala do diretor. Cada chalé tinha duas salas e suas respectivas instalações sanitárias. Dois pátios internos para o recreio da garotada : um para os meninos e outro para as meninas."

Na década 1916 o Grupo Escolar de Itaúna recebeu a visita do Governador de Minas Gerais o senhor Delfim Moreira, dois anos depois foi eleito Presidente do Brasil . 

Fontes :
Fragmentos de Um passado / Osório Martins Fagundes  / página 40
Revista "A Vida de Minas" Ano de 1916
http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/modules/fotografico_docs/photo.php?lid=34902

domingo, janeiro 12, 2014

JOÃO DE CERQUEIRA LIMA

Fundador da Cia. Industrial Itaunense
(1º Maio de 1911)


*Lincoln NOGUEIRA


PRIMEIRA BIOGRAFIA

"Ontem, à tarde, ao sol posto,
Passei junto à tua porta,
E vi com grande desgosto
Que minha esp'rança era morta"

Ele escreveu esp'rança à portuguesa e não esperança, sonoramente à brasileira. São versos da Revista " Cigarra do Sertão", que João Lima, Mário Matos e eu escrevemos, já la vai um punhado de anos.
Basta o esp'rança para se descobrir que a quadra saiu da pena lírica de João de Cerqueira Lima.

Posto que tinha vindo bem pequeno para o Brasil, a linguagem revela desde logo a origem.  Mamou o leite materno em Portugal, na Beira, em Castanheira de Pêra, onde viu a luz pela primeira vez, no dia 21 de abril de 1870.  Menino e não moço ainda, levou-o o destino pra longes terras. Seus pais, Antônio de Cerqueira Lima e Maria Júlia de Cerqueira Lima, resolveram abandonar a pátria e emigrar, com os filhos, para o Brasil.

A imaginação de sonhador, o espírito de aventuras, a alma de romântico, a ânsia do desconhecido, o desejo de viagens fantásticas, a ilusão de mundos novos, virgens e ignotos em remate, os mares de D. Afonso Henriques, a alma portuguesa enfim, sonhadora e romântica, lírica e aventureira, insôfrega e destemerosa, irrequieta e angustiada não permitiram que o lusitano Antônio de Cerqueira Lima envelhecesse calmamente, mansamente, no pátria amada.

Por isso, com a família, atravessou o Atlântico, rumo ao Brasil, isto é, ao desconhecido, em viagem perigosa, que todas eram, naquela época. Chegado que foi ao Rio de Janeiro mete-se com a família pelo interior, e junto com os tropeiros, cavalgando ásperos burros de cela, afundou 600 léguas sertão bruto a dentro, atravessando a perigosíssima serra da Mantiqueira, onde tinha seu quartel bem organizada quadrilha de gatunos, que para roubar, matavam os viajantes desprevenidos.

E veio com a família terminar viagem no centro, no coração de Minas Gerais, instalando-se na cidade de Bonfim, onde se estabeleceu com uma casa comercial. Seu filho, o nosso João de Cerqueira Lima, contava apenas 10 anos de idade, e, para fazer a viagem, acompanhando os pais, interrompera os estudos primários que frequentou apenas durante 6 meses.

O menino João de Cerqueira Lima, ajudava o pai, por todos os meios ao seu alcance, não rejeitando serviço por duro ou pesado, indo de servente de pedreiro a caixeiro do pai, da casa de comércio. As compras para sortimento de negócio, eram feitas em Sant'Ana de São João Acima, na casa de comércio de Manoel Gonçalves de Souza Moreira.

Nota-se, de passagem, a força, o poder deste arraial de Sant'Ana, a futura cidade de Itaúna. Era o arraial grande e poderoso empório comercial, onde havia dois estabelecimentos notáveis, a casa de Manoel Gonçalves de Souza Moreira e a casa de Josias Nogueira Machado. Assombroso, por numerosíssimo, era o movimento de tropas e tropeiros, que de Sant'Ana de São João Acima partiam em todas as direções. O pequeno e modesto arraial supria de tudo, fornecendo, qualquer mercadoria, não só a muitos arraiais como ainda a várias cidades.

Antônio de Cerqueira Lima, porém, não prosperou. Ou porque fosse muito bondoso ou porque o estabelecimento não rendesse o suficiente para sustentar a família, o certo é que fracassou o empreendimento comercial, falindo. Como consequência, ficou devendo a Manoel Gonçalves de Souza Moreira a importância que montava a um cento e tanto. Sempre foi o português Antônio de Cerqueira Lima homem e correto, e, no descalabro de seu negócio, tomou as providências necessárias para saldar todas as dívidas. Não encontrou, porém, jeito de fazer o pagamento, a Manoel Gonçalves de Souza Moreira, e o recurso foi mandar o filho João trabalhar como caixeiro, até que fosse feito pagamento total, aos poucos, mediante um minguado ordenado que recebia.

E João de Cerqueira Lima, quando veio para Sant'Ana de São João Acima, trabalhar para pagar a dívida paterna, contava apenas 11 anos. Uma criança que precisava de brinquedos, ia lutar duramente, com a grave responsabilidade de saldar a dívida contraída pelo progenitor. Deixou o pai amado, e a mãe idolatrada, os irmãos queridos e, montado num burrico qualquer, partiu para o arraial bravo, cheio de lutas e ambições, de gente aventureira, que surgia de todas as bandas, sem freios e nem policiada, onde todas as noites havia rixas e desavenças, tiros e facadas, feridos e mortos.

Partiu com 11 anos de idade, mal sabendo ler e fazer contas para trabalhar para um patrão severo e rigoroso. Conseguiu com paciência e tenacidade pagar a dívida, tendo mais resignação que o Jacó da Bíblia, pois levou 11 anos trabalhando para pagar tudo. Entrou para a casa com 11 anos de idade e a deixou com 22 anos, recebendo, após o acerto de contas, a importância de uma pataca.
Bendita a hora, em que chegou a Sant'Ana de São João Acima o menino João de Cerqueira Lima! Bendita dívida, que obrigou o menino João de Cerqueira Lima a permanecer em Sant'Ana.

Por que João de Cerqueira lima veio a ser um dos maiores vultos de Itaúna? Porque foi ele quem consolidou a Fábrica de Tecidos Santanense, na iminência de um geral fracasso. Porque foi ele que ergueu, junto com Dr. Augusto Gonçalves de Souza a Cia. Industrial Itaunense, de que foi a alma. Porque Itaúna deve a João de Cerqueira Lima a riqueza que possui, a grandeza que ostenta, o progresso que causa admiração, a força industrial que a anima.

Sim, porque, se não fossem criadas as duas poderosas as duas poderosas indústrias de tecidos, que se devem em última análise, a João de Cerqueira Lima, Itaúna estaria hoje modorrando ao sol, como cidade morta.  Mas, continuemos a seguir a vida do lutador.

O trabalho de caixeiro lhe dava poucas horas de folga, que era, porém bem aproveitadas pela criança inteligente e séria. E só podia dispor desses raros momentos de fazer, pois aos domingos e dias santos. O trabalho era dobrado. Em geral, as populações das roças, fazendeiros e lavradores, preferiam os domingos e dias santificados para as compras. Vinham à missa, passavam e faziam compras necessárias. Havia, assim, nos dias destinados ao descanso, desusado movimento, verdadeira azafama, que punham os pobres caixeiros numa roda viva.

O menino, cujo caráter a dureza da vida amoldara rijamente, nas horas vagas, ao invés de brincar ou passear, tratava de estudar, procurando compreender consigo mesmo o que não pode fazer na escola, por a ter frequentado somente seis meses.

Formoso exemplo de autodidata. E não foi o único que apareceu em Sant'Anna. Mais dois pelos menos merecem ser citados e foram Aureliano Nogueira Machado, cujo diploma de farmacêutico trazia a assinatura de D. Pedro II e Joaquim Marra da Silva, o jornalista de linguagem correta e castiça, foram mais ou menos contemporâneos, ainda que João de Cerqueira Lima fosse bem mais moço.

O fato exato é que João de Cerqueira Lima, em pouco tempo, sem professor e sem guia, fazia a escrita da cassa, com perícia e perfeição como competente contabilista, isto, aos 16 anos de idade, isto é, cinco anos depois que bons ventos o trouxeram para Sant’Anna. Quando contava 20 anos, teve que assumir a direção da casa, porque Manoel Gonçalves de Souza adoecera de reumatismo e ficara preso ao leito, entrevado, durante quase 2 anos.

Entreou o povo de Sant'Anna a murmurar que o negócio iria por água abaixo, porque o jovem João de Cerqueira Lima não daria conta do recado, e, faltando o chefe, que sempre esteve à frente, tudo iria mal. E muita gente boa antegozava o fracasso do negócio, numa satisfação mal dissimulada. A fim de estimular o rapaz e dar-lhes mais ânimo. Manoel Gonçalves de Souza Moreira prometeu-lhe dez por cento sobre os lucros, se os houvesse.

Curado o patrão, tornou a assumir a direção de seu estabelecimento comercial, e, foi quando houve a desavença, que os separou. A casa dera mais lucros sob a direção do moço do que antes. Parece que o patrão não gostou, e, no acerto de contas, houve atrito e discussão, e, como resultado, o moço João de Cerqueira Lima deixou a casa, onde trabalhou 11 anos seguidamente.

Por esse tempo já andava de namoro com a senhorita Ana, na intimidade Aninha, filha do Coronel Manoel José de Souza Moreira. Na igreja, que foi mais tarde demolida, situada no largo da Matriz, durante a missa, é que ele via a namorava o brotinho Aninha. Como a semana demorava a passar, para que chegasse o abençoado domingo! E era um instante apenas, pois tão pouco lhe parecia a meia hora da missa, finda a qual corria para o balcão, a atender o povo das roças, que queria fazer compras.

 A moça Ana ficou verdadeiramente apaixonada pelo rapaz, que era elegante, de boas falas e já perito na metrificação. Com certeza, compôs lhe muitos madrigais apaixonados, poeta que era, mas possível não foi obter sequer uma poesia a esse respeito.  Manoel José de Souza Moreira, via o namoro com bons olhos, pois adivinhava no moço, honesto, sério e trabalhador, um homem de futuro.  Não pensava, assim, o filho de Manoel Gonçalves de Souza Moreira, o Manoelzinho ou o Moreira, como era chamado.

Com o amparo do pai e do irmão da jovem, Jovino Gonçalves de Souza, o namoro progredia, para em breve chegar ao noivado. Dizem que Manoel Gonçalves de Souza Moreira, o Manoelzinho, fizera grande oposição, chegando a ponto de oferecer à mana a quantidade de cem contos de reis, fortuna imensa naquele tempo, para que ela abandonasse o João Lima, não se casando com ele. Parece lenda, porque a importância é mesmo fabulosa.

O fato é que a menina Aninha não quis saber do dinheiro, porque estava doidinha para se casar com o João.  Pelo menos diz, um antigo jornalzinho, que se publicou em Itaúna:
 - "A menina Aninha queria porque queria casar com o João, e, quando escutava o sino da Matriz, era assim que o sino falava: Casa com o João que o João é bom! Casa com o João que o João é bom! Ouviu o conselho do sino e casou mesmo com o João".

Já nesse tempo de namoro, negociava João de Cerqueira Lima de sociedade com Jovino Gonçalves de Souza, seu futuro cunhado, de quem era muito amigo. O casamento de João de Cerqueira Lima e Ana Gonçalves de Souza foi celebrado no ano de 1894, na mesma Matriz, onde começaram o namoro.

Tratava-se por esse tempo, da construção da Fábrica de Tecidos Santanense, empresa gigantesca para aqueles tempos remotos. Manoel José de Souza Moreira com seus irmãos José Gonçalves de Souza, Francisco Gonçalves de Souza e Vicente Gonçalves de Souza, e, também, seu filho Manoel Gonçalves de Souza Moreira estavam edificando ou construindo a Fábrica, cujo capital inicial era de seiscentos contos, um capital muito elevado, considerada para a época.

As dificuldades eram imensas, basta lembrar que, desde o Rio de Janeiro até Sant'Ana de São João Acima, todas as máquinas, e muitas eram pesadíssimas, tiveram que ser transportadas nos lombos dos burros ou em carros de bois, numa viagem lenta que durava meses.

E as dificuldades foram sempre subindo de ponto, de tal jeito que a turma desanimou e estava resolvida a liquidar a incipiente Fábrica. A turma, não. É preciso explicar bem. Manoel José de Souza Moreira não desanimou nem concordou ou consentiu que se liquidasse a empresa. 

Desanimado, o filho Manoel não quis mais continuar à frente do empreendimento. Nesse ponto, foi lembrado João de Cerqueira Lima e o sogro o levou para a direção da Fábrica. Deixou assim, o comércio, no ano de 1895, para assumir a gerência da Fábrica de Tecidos Santanense.

Em pouco tempo, reergueu a empresa, evitando que se perdesse tanto esforço e tanto capital. Não pode, porém, continuar muito tempo, pois houve grave atrito e desavença com o cunhado Manoel Gonçalves de Souza Moreira, que, afinal, voltou a dirigir a indústria de tecidos.

João Lima retornou ao comércio, estabelecendo-se com nova casa comercial, à rua Silva Jardim, esquina com Artur Bernardes, onde hoje está a casa de seu filho João de Cerqueira Lima Júnior. A primeira casa comercial de sociedade com Jovino Gonçalves de Souza estava situada na mesma rua, porém, mais abaixo, mais ou menos onde está hoje a casa do Sr. Francisco Guimarães, à praça Luiz Ribeiro.

Ali na rua Silva Jardim, negociou até o ano de 1911 quando se deram dois fatos auspiciosos para Itaúna: - A chegada da Estrada Oeste de Minas e a Fundação da Companhia Industrial Itaunense.

João Lima vendeu a casa comercial e foi ser diretor gerente da Cia. Industrial Itaunense, que dirigiu, administrando, com muito tino e argúcia, até o ano de 1938, em que já doente passou a cargo a seu filho José de Cerqueira Lima, que é o atual diretor gerente. Itaunense notável entre os mais notáveis, ainda que nascido em Portugal, João de Cerqueira Lima passou toda a vida em Itaúna, desde a infância à velhice, dedicou toda a existência a este torrão bendito de Sant'Ana de São João Acima.

Por esta terra lutou, empenhando todas as forças e recursos em todos os setores, quer no social e político que no econômico ou industrial. Não se indigita cometimento de vulto em Itaúna que não traga a marca do lutador resoluto, não há fato de importância que não ostente algum sinal de sua presença.

Entretanto, não quis o destino que, assim como não nascesse em Sant’Anna, viesse, também, a falecer na cidade que ajudara eficientemente a edificar e amava tanto. Grave enfermidade o levara ao Rio de Janeiro, na intenção não só de lhe minorar os padecimentos, como, e principalmente, de prolongar a existência.

Nascera esse grande itaunense (seja -se permitido dizer assim, que fora sempre, como os maiores, de toda a alma e coração) em Portugal e falecera, no Rio de Janeiro. Caprichos do destino. Falecido na Capital Federal, a 11 de setembro de 1942, foi o corpo conduzido para Itaúna, em cujo cemitério municipal, foi inumado no dia 12.

No dia da chegada do corpo em Itaúna, imensa multidão encheu o largo da Matriz, havendo encomendação assistida por toda a população, que contrita, ou em prantos ou em preces fervorosas, assim homenageava o grande homem, tão estimado de todos, já dos ricos, a quem, sempre, amparou ou antes ajudou a enriquecer, já dos pobres e da engrandecida mole de operários, a quem amenizou a dureza da existência, oferecendo trabalho, propiciando meios dignos de subsistência.

Itaúna precisava de render uma homenagem de relevo ao grande filho, não só num preito de gratidão, mas principalmente num elegante gesto de justiça. É verdade que a rua onde se localizou a Fábrica de Tecidos que fundou, consolidou e dirigiu, com competência, brilho e dignidade, recebeu seu nome, conforme decreto do Prefeito de então.

Além da rua João de Cerqueira Lima, que lembra o nome do imorredouro itaunense, há necessidade outra homenagem maior, de imponência e de culto condizentes com a grandeza rebrilhante do homenageado.

Deixou os seguintes filhos, que seguem o exemplo paterno, na honradez, no trabalho, na dignidade e na inteligência: José, João, Afonso, Manoel Maria e Alice. Havia o sétimo, Ana moça prendada, que adoecendo de gripe pulmonar, no Colégio de Mariana, onde estudava como aluna interna, partiu ainda gravemente enferma para Itaúna, onde veio a falecer poucos dias depois. Morrera na flor da idade, quando contava 18 anos.

Além desses filhos, houve mais três, que faleceram, quando pequenos: O 1º José, a 1ª Ana, a 1ª Maria.  Houve, pois, dois filhos com os nomes José, Ana e Maria. Em memória, aqui ficam estas palavras, como singela homenagem de Itaúna agradecida a João de Cerqueira Lima.                    


Década 1911



SEGUNDA BIOGRAFIA

(*1870/ +1942)


**Torres do VALE

Célebre personagem que se fez dentro de nossa terra e que aqui chegara aos 10 anos de idade, vindo antes das Plagas Lusitanas, natural de Castanheira de Pêra bem ao pé de Coimbra, onde nascera a 21 de abril de 1870, filho de Antônio de Cerqueira Lima e de Maria Júlia Baeta Neves. Já então Maria Júlia de Cerqueira Lima, nome registrado em Portugal de conformidade com a herança matrimonial, era irmã do velho Caetano Baeta neves, de muitos anos antes, radicado em nossa vizinha cidade de Bonfim.

Em 1879 Antônio de Cerqueira Lima viera ao Brasil preparar ambiente de trabalho para trazer mais tarde sua família, que havia deixado em Portugal.  Dirigiu-se logo que chegou a Minas, para a cidade de Bonfim, onde exercera a função de pedreiro, trabalhando na construção da Igreja daquela localidade.

Um ano depois, fim de 1880, voltou a Portugal para buscar a família. João de Cerqueira Lima que já trabalhava em Portugal como auxiliar de pedreiro caiu certo dia de um pinheiro e esteve prestes a amputar sua perna esquerda, mas, o destino reservou-lhe a cura do ferimento e viu-se livre de perder a perna.

Quando a família, pressurosa leu no jornal os nomes de passageiros do navio que levava de regresso Antônio de Cerqueira Lima, sentiu-se feliz, porém já lhe falecido sua filha menor Maria Guilhermina, que falecera em terna idade. Seus filhos até então restantes eram: João de Cerqueira Lima, Cristina de Cerqueira Lima e Fortunata de Cerqueira Lima, os quais foram aos cais do porto, assistir ao desembarque de seu pai Antônio de Cerqueira Lima.

Assim que viram surgir um senhor de fisionomia atraente e de barbas negras, correram-lhe ao encontro e perguntaram-lhe: É o senhor, nosso pai Antônio de Cerqueira Lima? Acolhidos pelo papai, seguiram juntos.  Indescritível a euforia de todos em sua residência. Desde então, prepararam a mudança e em janeiro de 1881 vieram para o Brasil.

Chegados ao Rio de Janeiro em fevereiro de 1881, logo que obtiveram a devida licença para o desembarque, foram para a quinta dos Irmãos Bebiano, fortes comerciantes de secos e molhados, estabelecidos na rua 1º de março, no Rio de Janeiro, e primos de Maria Júlia de Cerqueira Lima, onde permaneceram durante cinco dias e dali se transportaram com destino a minas seguindo diretamente para a cidade de Bonfim, onde passaram a residir.

Quatro anos depois, em 1885 resolveu Antônio de Cerqueira Lima seguir com a família para o povoado de Papagaios de Pitangui, onde passaria a comerciar. Foi nessa ocasião que João de Cerqueira Lima que havia ficado em Itaúna, para trabalhar como caixeiro junto à Firma Comercial Moreira e Filhos, assumir aos seus quinze anos de idade responsabilidade do pagamento de um débito de seu pai de trinta contos de reis (30:000$000) dinheiro que havia obtido por empréstimo, para abrir casa comercial em Papagaios MG.

E foi com a máxima pontualidade que o filho lhe cobriu o débito.  Tais foram os dotes de atividade, horandez e inteligência do menor João de Cerqueira Lima, que três anos depois, aos seus dezoito anos de idade, elevava-se ao cargo de Guarda-Livros da firma e dois anos depois, aos vinte de idade, ao cargo de gerente da mesma firma. Na qualidade de gerente da firma, casou-se com Dona Ana Gonçalves de Souza Moreira que passou a assinar Ana Gonçalves Lima e estabeleceu-se por conta própria com uma pequena casa de comércio que lhe dera possibilidade de vencer.

Capacitado para o comércio e para a indústria, foi escolhido para gerente da Companhia de tecidos Santanense, que na ocasião estava em grande dificuldade. Ao lado de seu cunhado Dr. Augusto Gonçalves de Souza e de seu cunhado Cel. Antônio Pereira de Matos, fundou em 1911 a Companhia Industrial Itaunense, que foi uma de suas maiores vitórias e como prêmio de seu alto espírito moral e empreendedor. Basta dizer que em 1912 a referida empresa esteve quase a abrir falência, tal era seu excesso de produção, sem a satisfatória procura da mercadoria fabricada, em seu ainda restrito mercado de consumo.

Entretanto, sorria-lhe o destino, pois, em 1914 explodiu a Primeira Guerra Mundial todo o estoque fabricado com o máximo de procura, foi rapidamente vendido. E daí para diante, vemos à nossa frente a grande realização de João de Cerqueira Lima.

Além de tudo isto, era João de Cerqueira Lima exímio poeta e escritor, porem só escrevia e manifestava suas produções literárias a amigos íntimos, pois, sua modéstia jamais permitiu que ele publicasse o que escrevia. Chegou a colaborar com Mário Matos e Lincoln Nogueira Machado em várias revistas, sendo que, na última delas, fez trabalhar como protagonistas, seu filho José de Cerqueira Lima e sua nora Adalgisa Matos.

Mais tarde impossibilitado de continuar em Itaúna por motivo de falta de saúde transferiu-se com sua família para o Rio de Janeiro, onde faleceu a 11 de setembro de 1942 aos setenta e dois anos de idade e recebeu sepultura nesta cidade de Itaúna.


Década 60


Referências:
*Primeira Biografia de  Dr.Lincoln Nogueira: Revista Acaiaca (Celso Brant / Ano:1954)
**Segunda Biografia de Torres do Vale: Arquivo Dr. Antônio Augusto de Lima Coutinho. Professor Marco Elísio Chaves Coutinho.
Revisão Biográfica: Afonso Henrique da Silva Lima
Textos digitados conforme originais
Pesquisa e Organização: Charles Aquino, graduado em História pela Universidade do Estado de Minas Gerais / UEMG - Divinópolis/MG.
Acervo fotográfico: Prof. Marco Elísio Chaves Coutinho.