quarta-feira, julho 12, 2017

ESPORTE CLUBE DE ITAÚNA


Creio que pouca gente em Itaúna se lembra que o Esporte Clube de Itaúna foi vice-campeão da segunda divisão do certame mineiro.
Naquele tempo, não se falava em series A,B,C, etc.. Tempo de aspirantes, amadores e profissionais. O Esporte era profissional. Jogou as semifinais contra o Paraense de Pará de Minas. Disputa dura e muita briga. As duas cidades tinham uma velha rixa. Assisti a segunda partida. Na beira do alambrado. O Esporte ganhou e os "Patafufos" saíram corridos.
A final foi jogada contra o Nacional de Uberaba, time que talvez ainda exista. O Esporte, não sei. A primeira partida foi em Itaúna. Jogo empatado. O segundo embate foi na Terra do Zebu. Viagem longa a ser feita por avião.
Na véspera os atletas do Esporte foram de ônibus para Belo Horizonte. No dia seguinte, um sábado, embarque para Uberaba. Dizem os fofoqueiros que teve "cartola" que levou guarda-pó. Intriga dos paraenses. Que eu saiba, no céu nunca teve poeira.
Embarcaram na Pampulha num DC3 da Real Aerovias. Primeira viagem de avião na vida. Muito emoção e tremedeira. Correu tudo muito bem. Acrescente-se que o DC3 foi um avião que marcou época. Dos mais seguros já construídos.
Em Uberaba, a brava equipe itaunense hospedou-se no Grande Hotel, na avenida principal. O melhor da cidade. Existe ainda nos dias atuais. O jogo seria no domingo, às dez da manhã. Para não coincidir com os jogos da primeira divisão. Na hora do jantar, desceram todos para o refeitório. Todo mundo " varado" de fome. Afinal, não tinham almoçado e o lanche do avião mal dera para tampar os buracos dos dentes.
Naquele tempo, no jantar, era costume servir uma sopa de entrada. João Aprigio, grande e forte, " beque de espera" ao ver a sopa reclamou com os colegas:
"sem almoço e tendo jogo amanhã de manhã e só uma sopinha. É muito pouco!!!"
Dito isso, apanhou uma farinheira e despejou farinha a vontade no prato. Fez um baita grude e comeu tudo. Depois da sopa, aparece de novo o copeiro a retirar os pratos e colocar outros, bem limpos e talheres. O Aprigio então se dirigiu aos colegas: " vamos desocupar a mesa, pois parece que tem mais gente para jantar".
Foi aí que veio a grande surpresa. Um dos "cartolas" informou para o atleta que o que seria servido era para o time. A sopa era só a entrada. Aprigio não pestanejou. Procurou o banheiro mais próximo, enfiou o dedo na goela e botou toda sopa com farinha pra fora. Lavou a boca e voltou pra mesa. Comeu de tudo e ainda repetiu.
Uma nota: se não me trai a memória, o Esporte perdeu a partida. O segundo jogo foi em Itaúna. Os de casa ganharam. O desempate foi em Belo Horizonte, no campo do Cruzeiro, no Barro Preto. No dia primeiro de abril de 1964. O País convulsionado pelo Movimento de 31 de março. O Esporte Clube de Itaúna perdeu o jogo e o campeonato.

*Urtigão (desde 1943) é pseudônimo de José Silvério Vasconcelos Miranda, que viveu em Itaúna nas décadas de 50 e 60. Causo enviado especialmente para o blog Itaúna Décadas em 08/07/2017.

Acervo: Prof. Marco Elísio


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