segunda-feira, setembro 04, 2017

GUARACY E O SETE SETEMBRO


Entrei no curso ginasial em 1955, na Escola Normal Oficial de Itaúna. A diretoria do tradicional educandário já estava nas mãos do dr. Guaracy de Castro Nogueira, sucedendo a Dª Nair Coutinho. Sem desdouro para a sucedida, o dr. Guaracy imprimiu ritmos novos à escola. Era um desbravador, apaixonado pelo trabalho e por Itaúna.

Construiu uma quadra polivalente para prática do basquete, vôlei e futebol de salão. Num dos lados, uma prosaica arquibancada de cimento. Deu nova vida a escola, a pratica de novos esportes e as aulas de educação física. Construiu cantina, entregue ao porteiro "Tonico" que morava com uma família num barraco no terreno do prédio.

Construiu até mictório, cuja história já contamos neste espaço. No porão do edifício, construiu um vestiário e posteriormente, uma oficina bem montada para a prática de trabalhos manuais. O homem era desabusado e gostava de progresso.

Patriota como poucos, era entusiasmado pelo Sete de Setembro. Sob o comando do Tenente Maimone, na época, professor de Educação Física, aprendíamos a marchar em passo certo. Jovens adolescentes, moças e rapazes debaixo das ordens do militar durão.

Treinávamos com os portões e no Dia da Independência aparecíamos para o público reunido na praça.

Para o gosto do diligente diretor ainda faltava algo: a fanfarra. Ainda no meu tempo de ginásio ele conseguiu concretizar o sonho. Um aluno vindo de fora, de nome Atilio D'Aurio, se não me falha a memória, sabia tocar o tarol. Em pouco tempo, outros com aptidão para os tambores foram aparecendo.

O Rubens Machado (que Deus o tenha) filho do Major Rui, Roberto Moravia, Roberto "Abana Fogo", Zé Dias e outros mais, foram se incorporando. Providenciadas as caixas "claras", surdos e outros componentes da percussão eis que surge uma bela fanfarra.

Toca a ensaiar para o grande dia. Para as moças, as quais não era permitido tocar na banda, treinar exercícios de ginástica rítmica e manuseio de bastões. Daí saíram as futuras balizas.

Foi um acontecimento na cidade o Sete de Setembro daquele ano. Todos os alunos, moças e rapazes, impecavelmente uniformizados. Sapatos pretos engraxados, meias branca e uniforme engomado, a marchar em passo correto na praça principal.

Juntamente com o Tiro de Guerra 80, o Ginásio Sant'Ana, a Escola de Contabilidade do "Seu Carmelo ". Dava gosto ver o orgulho dos estudantes e das famílias a "lamber as crias".

Das balizas, lembro-me da Marise, filha da d. Artumira, da Cleusinha (irmã do Tarefa), da Maria José Bustamante, da Zuzinha. As outras que me perdoem a falha.
Itaúna inteira na praça da matriz. William Leão de farda de tenente da reserva, José Diniz, idem. 

No alto falante da igreja de Sant'Ana, o padre Manoel Cauper narrava o desfile. Ainda ecoam nos meus ouvidos as suas palavras: " rufam os tambores, abrem-se as fanfarras para passagem dos galhardetes da pátria........."

Éramos felizes e não sabíamos.



*Urtigão (desde 1943) é pseudônimo de José Silvério Vasconcelos Miranda, que viveu em Itaúna nas décadas de 50 e 60. Causo verídico enviado especialmente para o blog Itaúna Décadas em 01/09/2017.




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