quinta-feira, outubro 12, 2017

MEMÓRIAS CINE REX PARTE V

MATINÊ NO CINE REX
Domingo às 10 horas. Dia de matinê no cine Rex. A missa das crianças e jovens era às 8:00. Depois do dever religioso devidamente cumprido, direto para o vetusto cinema à espera da matinê. Ingresso comprado e quando podíamos, os bolsos recheados de bala Chita, que aliás existe até hoje.
A molecada lotava o "poleiro". Um prosaico balcão de madeira, alcançável por um lance de uma escada rangedeira. Cadeiras de madeira e assoalho, idem . O melhor lugar da sala de espetáculos.
Dia de assistir Rocky Lane, Hoppalong Cassidy, Roy Rogers e Dale Evans, Búfalo Bill e outros menos cotados. Com direito a seriado do dr. Magoo e do Tarzan o homem macaco. Pendurado nos cipós, a berrar selva afora com a macaca Chita (que deu nome à bala) em busca de aventuras.
Sessão de cinema com direito a jornais. Sem cinejornal não tinha graça. Graça que por sinal estava na hora em que terminava. Hora de um gaiato gritar: " acabou o jornal!!!!!" E outro gaiato responder de pronto: " limpa com o dedo."
Tínhamos direito a trailers. De preferência, filmes da Condor. Pelos simples fatos de espantarmos a ave que mais se parecia um urubu, pousada em seu sossego. A sala inteira vinha abaixo: " shiii, shiii, shiiii, shiiii, até o bicho bater as asas e alçar voo. Era a glória.
Nos filmes, os melhores momentos eram aqueles de perseguição do bandido pelo mocinho. Batíamos os pés no assoalho e o velho "puleiro" quase vinha abaixo. Finda a perseguição, hora da luta. O mocinho tira as luvas (pretas de preferência) e esmurra o bandido. Luta limpa, sem pontapés e golpes baixos. Finda a refrega, bandido devidamente amarrado e jogado na cela, toca pra cidade entregar a encomenda para o Xerife. Serviço rápido e sem sangue. Com muita onomatopeia, simulação sonora de socos. Estrelas ao redor da cabeça de quem levava os sopapos. Uma beleza.
Domingo era um dia muito especial. Roupa de " ver Deus", matinê cine Rex e depois, picolé de groselha do Bar Azul.
Em casa já nos esperava o ajantarado. Frango assado ou lombo de porco, macarronada e arroz de forno. Nada de verduras e saladas. Dia de comida especial, com direito ainda a guaraná champagne Antártica e soda limonada Gato Preto. Bons tempos, nos quais nos contentávamos com pouco.



*Urtigão (desde 1943) é pseudônimo de José Silvério Vasconcelos Miranda, que viveu em Itaúna nas décadas de 50 e 60. Causo verídico enviado especialmente para o blog Itaúna Décadas em 16/09/2017.


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