terça-feira, novembro 27, 2012

DOUTOR COUTINHO

"Humanista, grande médico, homem honrado e caridoso"

Dr. COUTINHO, tratado na família como "NICO", nasceu em Ouro Preto no dia 12 de abril de 1898, filho de Pedro Artur de Souza Coutinho e Felicíssima Ricardina Coutinho. Seus avós paternos, Cel. João Batista de Souza Coutinho e dona Francisca de Assis de Azeredo de Sousa Coutinho eram originários de Barão de Cocais. Seu avô materno Antônio Augusto Pereira Lima, nasceu na Fazenda do Marzagão, em Itabira do Campo (Itabirito), também terra natal de sua avó, dona Anna Josephina França.

No ano de 1907, Pedro Artur (Doca), que era funcionário público, transferiu-se com a família para Belo Horizonte, onde o menino Antônio Augusto (nome em homenagem ao avô materno) prosseguiu seus estudos no curso primário com a professora particular Ana Cintra, renomada educadora mineira, sua amiga, enquanto ela viveu, pela troca de correspondência mantida ao longo de muitos anos.  Sempre aplicado e compenetrado, criado em ambiente de alta religiosidade, foi jovem e adulto temente a Deus. No curso secundário, estudou no Colégio D. Viçoso.

Com a mudança do Colégio Azevedo para a capital, do velho mestre, seu amigo Caetano de Azeredo Coutinho, terminou nestes seus estudos, os quais lhe permitiram aspirar uma carreira de nível superior e concretizar seus sonhos de juventude. Estudioso, desde cedo aplicou-se no conhecimento do francês, que lhe era familiar. Não saía das bibliotecas onde os melhores livros didáticos estavam escritos nessa língua. Submeteu-se ao exame de admissão na Faculdade de Medicina de Belo Horizonte, em 1916, onde ingressou, vindo a ser, nos primeiros anos, preparador da Cadeira de Anatomia. No terceiro ano, trabalhou como interno no Serviço de Oftalmologia da Santa Casa de Misericórdia. 

Ao término do quarto ano, transferiu-se para a Faculdade da Praia Vermelha, no Rio de Janeiro, como interno no Serviço de Ginecologia, oportunidade em que escreveu um sério trabalho, denominado "Prenhez Ectópica (Tubária). Formou-se em 1922. Logo foi convidado pelo seu antigo chefe na Faculdade, professor Augusto Brandão, para clinicar na cidade de Campinas (SP), mas recusou o convite, porque esteve em Belo Horizonte, em visita aos seus pais e recebeu de seu tio Agripino Augusto Pereira Lima um convite para trabalhar em Itaúna, onde chegou no dia 18 de janeiro de 1923.  A Casa de Caridade Manoel Gonçalves de Souza Moreira, inaugurada em 19 de março de 1921, dez dias depois, perdeu seu provedor, Dr. Augusto Gonçalves, vítima de um derrame cerebral, vindo a falecer 20 de Maio de 1924. 

Dr. COUTINHO ficou morando na casa de seu tio, farmacêutico Agripino Lima. Este o levou a conhecer o renomado médico Dr. Dorinato de Oliveira Lima, que o convidou para ser seu auxiliar, como cirurgião. Optando pela ginecologia, Dorinato lhe disse não ser inclinado para tal especialidade, pediu-lhe então que examinasse pacientes na enfermaria de mulheres. Paradoxal, Dorinato obteve em Paris seu diploma de pós-graduação justamente em ginecologia e obstetrícia. Dr. COUTINHO, com os recursos disponíveis - dedo, vista e ouvido - examinou algumas e, por um capricho do destino, constatou prenhez tubária em uma delas. Dorinato espantou-se porque tratava-se de um diagnóstico difícil.

Dr. COUTINHO, assumindo o caso, utilizou pela primeira vez em Minas Gerais, a Raquianestesia, injetando no canal medular uma ampola de Percaine, que trouxera do Rio, obtendo êxito completo no tratamento da paciente. A partir de então, Dr. COUTINHO ganhou a confiança de Dorinato que lhe entregou todos os casos de ginecologia do Hospital. Dorinato, seduzido pela política se transferiu para Belo Horizonte e, como é do conhecimento geral, Dr. COUTINHO, além de clínico geral, assumiu a chefia do setor cirúrgico da Santa Casa. Fez da Medicina um sacerdócio, dando combate sem quartel à doença, sua inimiga de todas as horas. Perseguia-a onde estivesse, tanto na fazenda como na cidade. Ia ao encalço dela pelas estradas da roça, montado em cavalo ou burro. 

E as cirurgias sucediam-se, uma atrás da outra, quando para a Santa Casa afluíam doentes de Divinópolis, Cajuru, Pará de Minas, Cláudio, Mateus Leme, Itaguara, Itatiaiuçu, Bonfim e muitos outros lugares. Em 1931, o jovem João Guimarães Rosa, formado em Medicina, foi residir em Conquista (Itaguara) e tornou-se frequentador da Santa Casa de Itaúna e da residência do Dr. COUTINHO. Tornaram-se grandes amigos. Dr. COUTINHO fez o parto de sua filha Vilma. Publicou em 1932 o livro "A Messe de um Decênio", em que relatou passagens dos 10 anos iniciais de sua atividade profissional, leitura que se recomenda a todos que desejarem conhecer o homem e médico que foi.

Casou-se, em 15 de setembro de 1924, com NAIR CHAVES, de rara beleza, "Miss Itaúna", de tradicionais famílias, descendente dos fundadores do município, distinguida na época com uma serenata de "Catulo da Paixão Cearense", em visita à cidade. O casal teve dez filhos, sendo que uma menina, primogênita, AUXILIADORA, morreu criança, aos quatro anos. Os outros são: HELÊNIO ENÉAS, falecido, médico, ex-membro da Academia Brasileira de Medicina; RÔMULO AUGUSTO, falecido, foi Secretário de Segurança do Estado de Minas Gerais; JUAREZ CARLOS, falecido, farmacêutico prático; EVANDRO ALBERTO, agrônomo; MARCO ELÍSIO, professor universitário; JAIRO CÉLIO, ex-gerente da extinta Caixa Econômica Estadual, MARIA ÂNGELA, casada com Achilles Ferreira, aposentado, ex-gerente do extinto Banco da Lavoura e do extinto Banco Real; ÂNGELA MARIA, formada na Universidade de Itaúna e HELDER MAGNUS, falecido, era alto funcionário da CEMIG. Todos se casaram.

Foi professor de francês e psicologia educacional na Escola Normal Oficial de Itaúna, onde sua esposa foi excelente Diretora. No período em que a Escola foi desoficializada, por sete anos, ele e Dª NAIR, como vários outros dedicados professores, lecionaram suas matérias sem remuneração alguma.

Sua primeira participação na vida pública de Itaúna foi na vitoriosa Revolução de 1930, dela um dos vigorosos propagandistas e defensores, ao lado de outros idealistas, como Artur Vilaça, Dr. Hely Nogueira e José Augusto dos Santos (Juca do Bá). Lutaram na Aliança Liberal, liderada por Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba, contra o governo central da República Velha e outros 17 Estados da Federação. Foi nomeado e participou do primeiro Conselho Consultivo, em substituição à extinta Câmara Municipal.

Líder integralista, ao lado do Monsenhor Hilton Gonçalves de Souza, acreditou nos ideais de Plínio Salgado. Foi Prefeito no período de 14 de dezembro de 1947 a 31 de janeiro de 1951, o primeiro após a reconstitucionalização do país com a queda de Getúlio Vargas. Trabalhou, incessantemente, em favor do desenvolvimento harmônico e global do município. No cargo, deu atenção especial aos problemas vinculados à área de saneamento básico. 

O abastecimento de água, a extensão da rede de esgotos, o combate às moléstias endêmicas, como a malária, merecera investimentos prioritários em seu mandato. Trouxe a Itaúna o famoso professor CARVALHO LOPES, que entrevistei para a Folha do Oeste, e nos deu água de primeira qualidade, por alguns anos, com os poços subterrâneos. Deu atenção especial à educação, eis que foi, em vida, autêntico educador. Dedicou-se também à tarefa de melhorar as condições de vida, na área rural, destacando-se seu empenho na construção de estradas vicinais. Ocorreu em seu mandato, logo no início, uma das maiores enchentes do rio São João, que passou à história como a "enchente do Dr. Coutinho". 

O município entrou em estado de calamidade pública. A tragédia deu frutos: elaborou-se o melhor Plano Diretor já feito para a cidade, lamentavelmente não executado pelo seu sucessor, por falta de recursos, e projetou-se a construção da Barragem do Benfica, resultados de sua atuação junto aos Governos estadual de Milton Campos, onde seu compadre Pedro Aleixo era Secretário do Interior, e federal de Gaspar Dutra, de onde trouxe técnicos para estudar e viabilizar a solução dos problemas, como o Dr. Camilo Menezes, Diretor Geral do Departamento Nacional de Obras e Saneamento.

Nas negociações, envolveu a Companhia Industrial Itaunense, que se responsabilizou pelo levantamento topográfico da bacia, e, afinal, em sociedade com a Companhia Tecidos Santanense construíram, de 1954 a 1958, a importante e vital obra para Itaúna, a Barragem do Benfica.

Juntamente com o prefeito Lincoln Nogueira Machado, Artur Vilaça e outros, o Dr. COUTINHO tudo fez para trazer para Itaúna uma indústria de grande porte, a Companhia Nacional de Ferro Puro - CNFP, que seria instalada onde é hoje o Bairro Padre Eustáquio. Uma enorme empresa, organizada em São Paulo, com o capital de 16 mil contos de réis. Lançou-se a pedra fundamental da iniciativa com as bênçãos do virtuoso Padre Eustáquio Van Lieshout. A ideia não vingou, mas ficou, para sempre, conosco o nome do santo sacerdote que ganhou, merecidamente, o título, dado pela nossa Câmara Municipal, de "Cidadão Honorário". Seu nome enobrece o Distrito Industrial da Fazendinha.

Nasceu para servir, foi um dos fundadores do Rotary de Itaúna e seu Presidente. Foi bom para Itaúna, para sua família, e, especialmente para a sua legião de clientes, alunos e amigos. Grande orador, altíssimo nível cultural, jamais saiu de sua terra de adoção. Esposo e pai, construiu edificante lar. Romântico, idealista, sempre digno e ético, jamais foi um Sancho Pança e muitas vezes foi um D. Quixote, deixou marcas profundas na história do município e um grande número de descendentes, herdeiros dos exemplos e das nobres qualidades maternas e paternas.

Faleceu aos 84 anos, aos 10 dias do mês de Junho de 1982, às 7:30 horas de uma manhã ensolarada, no dia de Corpus Christi, data santa tão vinculada ao grande morto, autêntico cristão. Continua vivo na memória dos legítimos Itaunenses.



REFERÊNCIAS:
Texto: Guaracy de Castro Nogueira
Acervo: Professor Marco Elísio
Instituto Cultural Maria de Castro Nogueira - ICMC
Pesquisa: Charles Aquino, graduando em História pela Universidade do Estado de Minas Gerais / FUNEDI Campus da Fundação Educacional De Divinópolis.
Colaborador: Juarez Nogueira Franco


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