sexta-feira, janeiro 31, 2014

GUERRA DO PARAGUAI

(O Conde d'Eu e Oficiais Brasileiros que participaram da Guerra do Paraguai)


Voluntários da Pátria na Guerra do Paraguai:

Pitangui  &  Itaúna

A Guerra do Paraguai que perdurou de dezembro de 1864 a março de 1870 considerada por muitos um dos maiores genocídios de toda história da América do Sul, foi o fator mais importante na construção da identidade brasileira no século passado.

Superou até mesmo as proclamações da Independência e da República. A Independência provocou forte mobilização em apenas alguns pontos do país.

A força de terra que lutou no Paraguai compunha-se de 135 mil soldados, dos quais 59 mil pertenciam à Guarda Nacional e 55 mil aos corpos de voluntários. Pela primeira vez, brasileiros de todos os quadrantes do país se encontravam, se conheciam, lutavam juntos pela mesma causa.

A coerção destes recrutamentos sobre os voluntários, tornam-se determinante para um estudo do processo da guerra, mas, é preciso distinguir os vários momentos dos conflitos, todavia, à medida que os conflitos se prolongavam, reduzia-se o entusiasmo e surgiam resistências, aumentando, em consequência, os recrutamentos.

O Exército Imperial, em difícil condição para uma guerra nas fronteiras do sul do pais, se viu impossibilitado de sozinho combater o inimigo agressor. Face a debilidade das forças armadas, o Imperador D Pedro II em 7 de janeiro de 1865 pelo decreto n. 3.371 apelaria para o sentimento patriótico do povo brasileiro, criando, para o serviço extraordinário da guerra os batalhões denominados de Voluntários da Pátria, facilmente identificados pela chapa metálica com o escudo imperial levado no braço esquerdo pelos soldados.

 Mas, no momento inicial, houve entusiástica e surpreendente resposta ao apelo do governo. Corpos de voluntários formaram-se em todo o país. Descrições da partida desses voluntários indicam tudo menos coerção. Em Pitangui, interior de Minas, 52 voluntários despediram-se em meio a celebrações religiosas e cívicas a que não faltaram os discursos patrióticos, a execução do Hino Nacional e a entrega solene da bandeira ao primeiro voluntário, feita por uma jovem.  Para os pitanguenses o amor a pátria foi sempre uma religião, que devotadamente cultivavam com afanoso acatamento.

E, por isso, pressurosamente correram ao apelo da pátria ameaçada, e, reunidos, no Paço Municipal, a 2 de Fevereiro do dito ano, criaram a sociedade - Amor da Pátria- cujo fim era reunir e concentrar os recursos dos municípios, afim de que mais eficaz e prontamente pudessem auxiliar o governo imperial no meios de defesa com que o Brasil se deveria prevenir contra as hostilidades que porventura, surgissem da Inglaterra, bom como contra qualquer eventualidade futura.

A comissão conseguiu levantar logo a quantia de 2:110$000 (Dois contos cento e dez mil réis), que posteriormente, foi aplicada às despesas do Estado com a Guerra do Paraguai.

 Em ofício de 3 de Fevereiro de 1865, o Desembargador Pedro de Alcântara Cerqueira Leite, então Presidente de Minas , dirigindo-se ao Presidente e Secretário da sociedade - Amor da Pátria - cidadãos : Dr. Frederico Augusto Álvares da Silva  e Joaquim Antônio Gomes da Silva Júnior, cientificou-lhes :
- Que autorizado pelo governo  de S.M. o Imperador louvava-os e aceitava a quantia de 2:110$000 (Dois contos cento e dez mil réis) que, como membros da comissão da sociedade - Amor da Pátria - , ofereceram ao mesmo governo para as despesas do Estado .

Na noite de 22 de Março houve uma sessão solene, imponente e majestosa no mesmo Paço Municipal . Era a sessão , em que a sociedade - Amor da Pátria -  , comovida e grata , ia estreitar em saudoso amplexo de despedida os generosos peitos dos Bravos Voluntários de Pitangui. 

Perante a sociedade compareceu a distinta jovem, Dª Rosinha, filha do digno Tesoureiro Tenente Azevedo, empunhando uma rica bandeira , onde em caracteres de ouro, viam se desenhadas as armas do Brasil, a  Corôa Imperial e a Legenda :     "VOLUNTÁRIOS DA PÁTRIA DE PITANGUI"

O Império do Brasil incentivou com promessas o recrutamento de homens, o que funcionou bem nos primeiros tempos, mas não mais teve resposta desejável devido às notícias tristes e desoladoras que vinham dos campos de batalha.

A falta de entusiasmo marcou o recrutamento militar a partir de 1866.  As autoridades sem saber ao certo como deveriam atuar neste sentido seguiram suas intenções e interesses particulares, econômicos ou partidários, dando provas que a ação recrutadora foi um elemento inconstante e fluido, ao sabor da sorte e da boa vontade de seus responsáveis.

Reconhecido pelo jeito “ressabiado” e desconfiado, o mineiro, ao receber essas notícias, sentia temor, e reconhecia nos agentes recrutadores uma ameaça real. Os agentes, por sua vez, tinham o melindroso e arriscado propósito de recrutar as pessoas.

Neste sentido, percebemos que a guerra e sua dinâmica impuseram condições nunca antes vistas: uma relação entre “necessidade e limites”, o que marcou decisivamente aqueles tempos.

Itaúna pertenceu administrativamente ao município de Pitangui, como não podia deixar de ser, deu também os seus voluntários para a Guerra do Paraguai.

Segundo nos informa o historiador Dornas Filho, já se sabia  como era feito esse voluntariado "sui-generis" : o cidadão era preso pelas autoridades encarregadas do serviço e, se não merecesse confiança, era metido a ferros e conduzido à Pitangui, sede do recrutamento da zona.

Muitos conseguiram fugir ao recrutamento, como se deu com Evaristo Cunha , que se escondeu, durante muitos dias, na capela do Senhor do Bonfim; outros não.  O voluntário José Alves Galdino foi preso pelos chimangos (o partido liberal que estava no poder) e conduzido para Pitangui; mas , informa a tradição, que, em lá chegando, usou de um recurso extremo : atochou-se com uma bucha de alho, e febril, foi considerado incapaz. Regressou à Sant'Ana (Itaúna) , onde faleceu pouco depois, em consequência desse estratagema ...

Outros, entretanto, seguiram para o teatro da luta e prestaram serviços até o fim.  São eles :
O Sargento Basílio Domingues Maia, conhecido pela alcunha de Bá ; o Furriel Joaquim Mariano Villas Boas e o mestre Januário, o Caraco, professor de primeiras letras, que dava aula envergando o uniforme. E este foi o único recompensado , com essa cadeira de mestre escola, pois os outros morreram em extrema miséria, desamparados pela Pátria, que serviram com heroísmo e desinteresse.

Essa complexidade pode ser vista num oficio enviado para o presidente da província de Minas Gerais pelo Comandante Superior de Pitangui no dia 23 de Novembro de 1866, em que esta autoridade reclamava do total descaso para com as ordens do recrutamento:

”Com pesar levo a presença de V. Exa que os Guardas designados no 12° batalhão para o serviço da guerra não  aquartelarão se hontem, como havia sido ordenado ao Chefe do mesmo Corpo. Esta falta não he so filha do desamino, do terror, e da repugnância que se nota nos Guardas Nacionaes para o serviço de guerra; he talves antes devida a froxidão dos officiais, que apesar das mais terminantes ordens, não tem elles comprehendido nossa situação e a responsabilidade que nos cabe.

He ella sem duvida ainda a falta de interesse, a indiferença com que as autoridades policiais tem encarado este tão importante serviço, e para provar que digo refiro o ultimamente passado com o Delegado de Policia deste Termo João Evangelista de Oliveira a quem communicando eu hontem a participação que me fes o Alferes Commandante do Destacamento que constava lhe haverem grupos de povo armado nos subúrbios da Cidade para opporem embaraços a prisão dos designados nenhuma providencia me consta fosse tomada, nem ao menos se dignou aquella autoridade responder o meo officio.

 Assim he que contando os designados com a froxidão da Policia, com a dos officiaes facilmente se negão ao cumprimento de seos deveres. Fiz já extrair a relação dos designados, remettia ao Delegado de Policia de quem solicitei a prisão, e ordenei terminantemente ao Chefe d’aquele Batalhão que debaixo de sua responsabilidade os fisesse imediatamente prender, empregando para isso a força destacada."

Ofícios e mais atos do Governo sobre o recrutamento 1867-1868. SP-1272. Secretaria de Estado dos Negócios da Guerra. 10 de junho de 1867. APM

Ao examinar o recrutamento dos guardas nacionais, essas questões são latentes, isso por que a Guarda Nacional era composta, em tese, por homens de bem e com renda, e por essa razão a possibilidade de estarem na relação de protegidos das autoridades era maior. Da cidade do Serro, um agente recrutador noticia ao presidente da província das dificuldades do recrutamento e revela que certas autoridades daquela região se comportaram de maneira contrária aos interesses do governo desestabilizando o envio dos guardas nacionais:

"Faço os exforços humanamente possíveis afim de que o contingente de Guardas Nacionais que tem de dar este Commando Superior esteja na Corte ate meados de Dezembro próximo, como exige o Governo e recomenda V. Exa no officio de 13 do passado: entretanto releve V. Exa que eu ainda um vez insite pelas medidas, que por varias tenho representado em favor do serviço publico e da Guarda Nacional sob meu Commando.

 Aguardo o ultimação das designações para longa e succintantemente expor a V. Exa o inqualificável comportamento de alguns Chefes de Corpos e officiaes, que regando-se aos mais insignificantes serviços trouxerão sérios embaraços ao prompto e necessário expediente."

 Ofícios e mais papeis dirigidos ao Governo sobre a força pública (Novembro-Dezembro de 1866). SP-1145. Cidade de Pitangui 23 de Novembro de 1866. APM.

Dessa maneira, a crise na prestação militar gerada pela necessidade da guerra acirrou ainda mais as relações entre as partes envolvidas. Fugas, desaparecimento para as matas, inúmeros pedidos de isenção e o desentendimento das próprias autoridades propiciaram o descontrole do objetivo proposto: o esforço para se fazer a campanha.

Os voluntários da pátria passaram a contar com recrutamento forçado, instituído por chefes políticos locais e a oficiais da Guarda Nacional, que obrigavam o alistamento de seus opositores. Cada província foi solicitada prover, no mínimo, 1% da sua população .

Quem estivesse cambaleando em alguma esquina poderia levar uma repentina paulada na cabeça, e acordar com uma espingarda na mão, a caminho da guerra.

De qualquer forma, havia várias formas de se escapar da convocação: os aquinhoados faziam doações de recursos, equipamentos, escravos e empregados para lutarem em seu lugar; os de menos posses alistavam seus parentes, filhos, sobrinhos ou agregados; aos despossuídos só restava a fuga para o mato.

O uso de escravos para lutar em nome de seus proprietários virou prática corrente. Estima-se que mais de 20 mil escravos tenham lutado na Guerra do Paraguai. O número representa cerca de 16% dos soldados brasileiros.

Além disso, sociedades patrióticas, conventos e o governo passaram a comprar escravos para lutarem na guerra. O império prometendo alforria para os que se apresentassem para a guerra, fazendo vista grossa para os escravos fugidos.

É inegável a força da guerra como elemento de formação da identidade brasileira . Mas é de lamentar que, além dos milhares de mortos, o processo tenha custado ainda o preço da desumanização do outro .


O Imperador Pedro II, chamado de o "Voluntário Número Um", transferiu-se pessoalmente à frente de batalha.

De 7 de Fevereiro a 21 de Março de 1865 
Foram estes os primeiros 52 Voluntários a inscreverem -se :

1- Antônio da Silva Barbosa
2 - Antônio Gonçalves dos Reis
3 - Antônio José Corrêa
4 - Antônio José Patrício
5 - Antônio Luiz Fagundes
6 - Antônio Rodrigues de Souza
7 - Antônio Silvério da Fonseca
8 - Antonio Silvério Dantas Pintor
9 -Braz Xavier da Silva
10 - Claudino José da Silva
11 - Domingos Martins da Silva
12 - Estácio José da Silva
13 - Fidelis Cláudio Maciel
14 - Florêncio José de Andrade
15 - Fortunato José Gonçalves
16 - Francellino José Gonçalves
17 - Francisco Antonio da Silva
18 - Francisco da Silva Dantas
19 -Francisco Assis Pereira da Fonseca
20 - Francisco de Paula
21 - Francisco Ferreira da Silva
22 - Francisco Gomes da Conceição
23 - Francisco Marinho
24 - Francisco Moreira da Silva
25 - Guilherme da Silva Capanema
26 - Herculano Xavier Rabello
27 - Ignácio Joaquim Bahia da Cunha
28 - Jacintho Pereira da Silva
29 - Jacintho Pereira Guimarães
30 - João dos Santos Mascarenhas
31 - João Farnape de Freitas Mourão
32 - João José de Souza
33 - João José Patrício
34 - João Soares de Freitas Mourão
35 - Joaquim José Ferreira
36 - Joaquim Pereira de Castro
37 - José Agostinho Pereira
38 - José Bahia da Rocha
39 - José Bernadino Fernandes Gama
40 - José da Silva Gomes
41- José Faustino Rodrigues Zica
42 - José Ferreira Rattes
43 - Ludovino Gonçalves Pinto
44 - Manoel Ferreira Coelho
45 - Manoel Gonçalves dos Santos
46 - Manoel José da Silva
47 - Manoel Ricardo Fernandes
48 - Marcellino Pedro Addade
49 - Moysés Antonio Pereira
50 - Olympio José da Silva
51 - Sebastião Alves Coelho
52 - Theóphilo Martins Ferreira





GUERRA DO PRATA



Fontes :
Pesquisa: Charles Aquino
Escavações ou Apontamentos Históricos da Cidade Pitanguy(Joaquim Antônio Gomes da Silva-1902)
Arquivo Público Mineiro
A Dinâmica do Recrutamento Militar na Província de Minas Gerais
Mobilização , Conflito e Resistência durante a Guerra do Paraguai   1865-1870
(César Eugênio Macedo de Almeida Martins)
Guerra superou a Independência e a República (José Murilo de Carvalho & Pedro Paulo Soares)
Hemeroteca Digital Brasileira
Arquivo do Senado Federal
Itaúna - Contribuição Para a História do Município  - Ano 1936 (João Dornas Filho)
Coleção de Leis do Império do Brasil

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