terça-feira, janeiro 30, 2018

ITAÚNA: PRAIA DOS MOINHOS


Na freguesia de Sant'Ana do Rio São João Acima, hoje Itaúna, aproximadamente final do século XIX, existiram por muitos anos moinhos d’água que ficavam às margens do rio São João. O historiador itaunense João Dornas Filho, elenca que, “era uma série de casinhas, cerca de vinte, onde se moía, o milho para o fubá de angu” e o memorialista Osório Fagundes, informa que, “de longe pareciam um bando de garças sobre as águas do açude”!

O moinho hidráulico de herança europeia, das quais, suas origens alçam ao período helenístico pelo mundo mediterrânico, segundo nos informa o professor Francisco de Carvalho, foi um importante marco nas paisagens rurais do Brasil, seja em grandes fazendas ou em pequenos sítios. No Brasil, a partir do século XVII, irão aparecer registros de moinhos hidráulicos nas colônias, surgindo a fabricação em maior escala, entre o final do século XVIII e início do século XIX devido a importância do milho no sistema de transporte do país que possibilitava a alimentação de pessoas e de animais domésticos.

Entre esses períodos, existiram alguns tipos de moinhos movidos pela energia cinética das águas: Os Moinhos de Água ou de Azenha, que eram movidos por uma roda d´água vertical, mais comuns na região sul do país e os Moinhos Horizontais, conhecidos também como Moinhos de Rodízio, mais comuns nas regiões do centro-oeste e sudeste, tendo como fato excêntrico do século XVIII,  a existência de um moinho de vento na cidade de Ouro Preto, hoje, um patrimônio cultural e natural protegido.

 E foi a partir da grande abundância de águas nos riachos e ribeirões do nosso Planalto Brasileiro, que possibilitou a instalação e o funcionamento de vários moinhos em um mesmo local, conseguindo utilizar a mesma leva d’água.

Discorrendo sobre o funcionamento do moinho de fubá (horizontal ou de rodízio), o carpinteiro, Antônio Barcelos, funcionário da fazenda Ponte Alta do município de Pitangui/MG, explica o funcionamento: seria importante construir uma represa que irá acumular água, ou então, construir um açude, que neste caso, o curso da água poderá ser mudado através de bicas, geralmente feitas de madeira.

 Chegando o volume d´água até ao moinho, a roda horizontal ou rodízio, irá acionar um eixo vertical que estará atrelado ao Mó de Baixo, o qual, o Mó de Cima irá girar triturando os grãos de milhos.

  Abaixo o professor Francisco de Carvalho faz um desenho das peças de um moinho de fubá horizontal.
O Almanak Administrativo, Civil e Industrial da província de Minas Gerais (1875), organizado por Antônio Assis Martins, traz informações sobre Itaúna, o qual, era distrito pertencendo administrativamente a Villa do Pará, hoje Pará de Minas, da comarca de Pitangui, com as seguintes informações: quatro Juízes de Paz; 1 Escrivão; 1 Subdelegado; 3 Suplentes; 1 Pároco; 1 Delegado da Instrução Escolar; 1 Professor Escolar; 3 Inspetores de Quarteirão; 5 Oficiais de Justiça; 1 Padre; 1 Boticário; 1 Capitalista; 5 Negociantes de Fazendas; 5 Ditos de Molhados; 9 Tropeiros; 5 Possuidores de Engenho de Cana; 33 Cultivadores de Gêneros Alimentícios; 1 Entalhador; 2 Carpinteiros, 1 Forneiro; 3 Ferreiros; 2 Oleiros; 2 Pedreiros; 2 Fabricantes de Arreios; 3 Alfaiates; 1 Caldeireiro e 2 Estalajadeiros.

Da listagem acima, dos 33 Cultivadores de Gêneros Alimentícios, Serafim Caetano Moreira, seria um dos comerciantes atuantes em Itaúna. Segundo o historiador João Dornas, o primeiro moinho construído na cidade, teria sido o do senhor Serafim, aproximadamente no ano de 1880 e junto desse, foram sendo construídos muitos mais, tendo uma impressão excêntrica de aldeia lacustre. O historiador informa que:

Esses moinhos foram causa de muita briga e muito motim, pois se atribuía ao açude que os movia uma febre maligna no local.  Várias vezes os povos se reuniram, como em 1910 para arrombar o açude, obrigando os seus proprietários e as autoridades a pegarem em armas para defender a s suas propriedades.

Nestes últimos anos, depois que a cidade foi abastecida de força elétrica, esses moinhos foram caindo em ruínas e desaparecendo. E a grande enchente de abril de 1926, a maior que se tem na memória em Itaúna, destruiu o restante dessa pitoresca lembrança de Sant´Ana de São João Acima ... (DORNAS, 1936). 

Em fins do século XIX, parte da família Caetano Moreira se estabeleceram por definitivo no município de Itatiaiuçu na “Fazenda Medeiros”, cujo irmãos, José Caetano Moreira, Manoel Caetano Moreira e Antônio Caetano Moreira, deixaram testamento informando ser naturais da freguesia de Congonhas do Campo e filhos legítimo de Caetano Moreira e Maria da Conceição, todavia, deixaram grande descendência em Itaúna.





REFERÊNCIAS:

FILHO, João Dornas. Itaúna: Contribuição para a História do Município, 1936, p.95 a 97.

FAGUNDES, Osório Martins. Fragmentos de um Passado, 1977, p.624.

ANDRADE de, Francisco de Carvalho Dias. A presença dos moinhos hidráulicos no Brasil. Disponível em:   http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-47142015000100133 .Acesso em: 30/01/2018

ALMANAK: Administrativo, Civil e Industrial da Província de Minas Geraes, 1875, p.396,397,398.

GOMES, Carla Neves Almeida. MORRO DA QUEIMADA – OURO PRETO: os benefícios da categorização paisagem cultural para sua gestão. Disponível em: http://www.forumpatrimonio.com.br/paisagem2014/artigos/pdf/141.pdf . Acesso em: 30/01/2018

Pesquisa, organização e acervo: Charles Galvão de Aquino. Pós -Graduando em História e Cultura no Brasil Contemporâneo - Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

Acervo: Francisco de Carvalho Dias de Andrade.



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