sexta-feira, junho 02, 2017

PAPAGAIOS E LAÇADAS


Quando eu e o Dóse meu irmão mudamos para a Godofredo, antes de fazer amizade com a rapaziada, inventamos de soltar papagaios. Mas não tínhamos técnica nenhuma para fazer papagaios, o que fomos aprender mais tarde. Mas nessa época, nas férias, acordávamos cedinho para aprumar nossos papagaios. Costumava dizer que acordávamos antes do vento, pois quase sempre às 6 da manhã não ventava (não sei porque!). A gente comprava folha de seda na Papelaria “Novo Mundo”, na rua Antônio de Matos e arrumávamos bambus e fazíamos os papagaios.
         Uma vez, apareceu um papagaio para a gente “laçar”, era de um dos nossos vizinhos, o Marco Antônio Bernardes (Marco Tija), que m ainda não conhecíamos. Nesta época não existia cerol, e ele tinha uma manivela superpotente, muito melhor que a nossa. Os papagaios se aproximaram e enroscaram a linha, os dois puxando a manivela, mas o vento estava para o nosso lado... e ganhamos a laçada com nossa manivelinha. Só que depois, minha mãe vendo nossa comemoração, quis saber do que se tratava. Explicamos, e para nossa tristeza, ela nos fez devolver o papagaio, devolvemos e ganhamos novos amigos: o Marco e o Môl, seu irmão.
         Certa vez, a gente já era maior – já sabíamos fazer os melhores papagaios – apareceu um rapaz de B.H. com uma pipa na rua. Pipa era raro por aqui, e a gente via “papagaio estranho” logo já queríamos laçá-lo. O cara aprumou a pipa em frente à minha casa, eu bati o olho em sua linha: era verde. Eu me fingindo de bobo, lhe perguntei: - Que linha é essa? Ele bem mais velho que eu, respondeu: - É linha de retrós! Tava no papo! Linha de retrós arrebentava atoa, não era páreo para o meu barbantinho, vou laçá-lo – pensei! Aprumei meu surucão e me coloquei na posição para a laçada, investi nele! Ele parecia estar com medo, tentava fugir. Aproximei e dei o golpe fatal na manivela: para minha surpresa a linha do meu papagaio se rompeu ao tocar a sua e eu fiquei sem entender! Minutos depois o rapaz arrebentava a linha de todos que tentavam laçá-lo. Por fim ele virou o terror, e enquanto permanecei na área impediu a todos de aprumar papagaios! Foi a primeira vez que ouvimos falar em cerol, uma mistura de vidro moído e cola, que se passa na linha. Cortava qualquer outra linha que lhe encostasse. O sujeito estava de férias em Itaúna, nos outros dias, era só ele aprumar sua pipa, que todos desciam seus papagaios. A partir destas férias a moçada começou a usar cerol nas linhas. Acredito que foi este rapaz de Belo Horizonte quem “trouxe” o cerol para Itaúna.

Texto: Pepe Chaves — Desenhista, pesquisador, ufólogo, músico, documentarista e jornalista.
Digitação: Ana G. Gontijo e Ícaro N. Chaves
Organização: Charles Aquino
Acervo: Agência da Boa Notícia


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